Título: Grampo liga quadrilha do INSS ao mensalão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Nacional, p. A7

Seis meses antes de o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) revelar ao País o escândalo do mensalão, a Polícia Federal interceptou ligações telefônicas de integrantes de uma organização envolvida em um esquema de fraudes previdenciárias nas quais o assunto predominante era propina na Câmara e Delúbio Soares, então tesoureiro do PT. Foram captadas citações ao ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, ao próprio Jefferson e ao Banco Rural, suposto caixa do esquema de mesada dos parlamentares. As gravações foram feitas pela PF entre janeiro e fevereiro, em Porto Alegre, base da quadrilha liderada pelo argentino Cesar de la Cruz Mendoza Arrieta. Ele foi capturado em abril pela Operação Tango, acusado da prática de crimes financeiros e de lavagem de dinheiro.

A transcrição das conversas entre Pavan - principal aliado de Arrieta - e outros dois suspeitos, identificados como Marcelo e Denis, foi enviada há pelo menos 3 meses ao diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, em Brasília. A PF não informou, porém, que providências adotou diante das revelações flagradas na escuta telefônica.

Somente agora uma cópia do laudo policial com os diálogos deverá ser encaminhada à Procuradoria-Geral da República. A assessoria de Antonio Fernando de Souza, procurador-geral, informou que até ontem o Ministério Público Federal não havia recebido nenhuma comunicação da PF sobre o grampo.

DIÁLOGOS

A turma de Arrieta trata inclusive de uma coleta de R$ 10 milhões que o PT repassaria ao PTB. Os diálogos são cifrados. Num deles, a 26 de janeiro, Pavan pergunta sobre uma determinada conta.

Na conversa, de 7 minutos, Denis respondeu: "É da Câmara dos Deputados, do 001, que tem de levantar 10 para fechar com o trabalhista e os outros lá, que é encomenda do 001, só que está faltando 70 mil e que já mandou 50 mil de um outro negócio que estão conduzindo pra gente." Outra gravação: "É 70 mil para fechar os 10 milhões na segunda-feira."

No dia 27 de janeiro, surge uma citação a Delúbio. "Ele (Denis) pediu ajuda para acertar o negócio com o Delúbio, que no miolo é Tarcisio e Aucelis. O Delúbio precisa fazer uma caixinha perto dos rolos que ele fez, quer R$ 70 mil."

No mesmo dia, Pavan conversa com Marcelo e faz referência a Dirceu. "Estou no aguardo de uma conversa com o próprio Zé Dirceu, assunto do Goiabeira."

"É conversa fiada, é tudo bobagem", reagiu a defesa do ex-tesoureiro, por meio de um de seus advogados. "Delúbio não tem nada com esse Arrieta."

OPERAÇÃO

Arrieta, que a Operação Tango tirou de circulação, está sendo processado na 1.ª Vara Federal de Porto Alegre, especializada em processos sobre lavagem de capitais. Cerca de 300 policiais, sob comando do delegado Ildo Gasparetto, atuaram na operação, que aconteceu simultaneamente em seis Estados: Rio Grande do Sul, São Paulo, Distrito Federal, Rio, Tocantins e Paraíba. Treze pessoas foram presas.

O grupo criava créditos tributários frios, oferecidos a empresas com dificuldades financeiras. Esses créditos eram usados na compensação de obrigações fiscais.

Além de Arrieta, permanecem detidos Roberto Fabrin, Marcio Pavan e a ex-mulher do argentino, Sonia. Segundo o procurador da República Adriano Guedes, os réus estão envolvidos em organização para crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro, em valor que supera R$ 40 milhões.

A procuradoria sustenta que Arrieta foi um dos maiores fraudadores da Previdência, segundo as conclusões de uma CPI que em 1993 investigou fraudes no INSS. Nesse caso, ele foi condenado a 16 anos de cadeia.