Título: Delcídio confirma elo com sacador
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Nacional, p. A8

O senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI dos Correios, confirmou ontem que o antropólogo Roberto Costa Pinho, que sacou R$ 350 mil da conta da agência SMPB, de Marcos Valério, trabalhou em sua campanha eleitoral em 2002. "Ele era o coordenador de marketing da minha campanha em 2002 e trabalhou comigo por 45 dias", disse. "Quero deixar muito claro que o coordenador-geral da minha campanha era Pérsio Andrade, vereador de Campo Grande, e não o Pinho", insistiu, acrescentando estar "surpreso" com a presença do nome do ex-marqueteiro na relação dos saques. "Não sei o que o levou a fazer isso." De acordo com o senador, Pinho foi indicado para trabalhar em sua campanha por João Santana, secretário de Ribeirão Preto durante a administração de Antonio Palocci, hoje ministro da Fazenda. "O Palocci me apresentou o João Santana para coordenar o marketing da minha campanha e, por sua vez, o Santana trouxe o Pinho, para ficar como coordenador do grupo de marketing", relatou o senador.

A saída do marqueteiro 45 dias após iniciar os trabalhos, ainda no começo da campanha, em 2002, aconteceu "por desentendimento sobre os métodos de trabalho e opiniões diferentes sobre os rumos da campanha", segundo Delcídio.

O senador reconheceu também ter sido fiador de Pinho em um imóvel em Campo Grande. "Como a campanha teria duração de seis meses, ninguém conseguia alugar um imóvel na cidade por menos de um ano. Era preciso também um fiador local e, como Pinho já era um senhor,casado com mulher nova, com filha muito pequena, não poderia ficar num flat e, por isso, aceitei ser fiador dele. Infelizmente, não passou de 45 dias", justificou Delcídio Amaral.

Na análise do presidente da CPI, a denúncia de uma suposta vinculação entre ele e seu ex-marqueteiro se trata de uma tentativa de fragilizá-lo politicamente, por causa do cargo ocupado na comissão. "Isso é tiro contra mim. Na minha posição, é tiro sempre, principalmente do fogo amigo", opinou.

Ele assegurou não manter nenhum tipo de relação espúria com Pinho. "O que aconteceu em 2002 (durante a campanha eleitoral para o Senado) é completamente diferente do que aconteceu em 2003 e 2004", afirmou.

"Estou muito seguro em relação aos meus atos e principalmente aos 45 dias que Pinho permaneceu no início da minha campanha."

Delcídio lembrou que seu ex-marqueteiro é também "compadre" do ministro da Cultura, Gilberto Gil, e que durante um período trabalhou como assessor no ministério. Pinho também inspirou Gil, recordou o senador, na composição da música Refazenda. "Sabe a música do Gil, Refazenda, que diz: abacateiro acataremos teu ato...? O abacateiro é o Roberto Pinho", contou.

Outra memória trazida por Delcídio foi a criação por Gil e Pinho, no início dos anos 70, de um kibutz próximo a Brasília, inspirado no construído em Israel, após a Segunda Guerra Mundial. "O Gil pode contar isso melhor, mas o que sei é que os dois entraram em depressão e o kibutz não deu certo. Como o Roberto Pinho entrou em baixo astral, o Gil compôs Refazenda, para dar uma animada no seu amigo", explicou o senador.