Título: Tarso ameaça desistir de disputa no PT
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Nacional, p. A11

O presidente do PT, Tarso Genro, ameaça não disputar, em setembro, a eleição direta, com voto dos filiados, para comandar o partido nos próximos dois anos. A falta de apoio irrestrito e a dívida astronômica do PT voltaram a pesar na decisão de Tarso, que está substituindo José Genoino desde o dia 9. "Não acho conveniente ser candidato agora", afirmou Tarso, que ainda é ministro da Educação e deixará o governo no dia 27. "Tenho tarefas difíceis que gostaria de cumprir para entregar ao novo presidente do PT um partido em outra situação. Se eu entrar num processo que tenha um contencioso, necessariamente poderá haver restrições de outros companheiros e atrapalhar a reorganização do partido."

Com 60% dos cargos de direção no PT, o Campo Majoritário se reúne hoje, em São Paulo, para discutir quem será o candidato do grupo à sucessão de Genoino. Ao se afastar do comando do partido, há duas semanas, por causa da crise do mensalão, Genoino também renunciou ao projeto de um segundo mandato. A eleição do novo presidente do PT está marcada para 18 de setembro, mas a posse só ocorrerá em dezembro.

Sete candidatos estão inscritos para concorrer, sendo cinco das facções de "esquerda" no espectro ideológico petista. Uma das alternativas em discussão pelo Campo Majoritário é o adiamento da eleição direta, de setembro para o ano que vem.

Além da crise, um dos argumentos usados pelo grupo é o de que o partido está falido. Segundo integrantes da nova cúpula, o PT não tem dinheiro para bancar passagens dos candidatos pelo Brasil.

Os radicais, porém, não concordam com o adiamento da eleição interna. Vêem na crise a chance de chegar ao poder.

NOMES

Nas conversas com os companheiros, Tarso tem indicado quatro nomes para concorrer à presidência do PT no lugar de Genoino: Nilmário Miranda, ex-secretário de Direitos Humanos; Marco Aurélio Garcia, secretário de Relações Internacionais da Presidência; Ricardo Berzoini, secretário-geral do PT, e Aloizio Mercadante, líder do governo no Senado.

"Eu quase nem consigo almoçar e jantar. Trabalho mais de 15 horas por dia resolvendo problemas no Congresso. Então, só se for uma conspiração para me matar", afirmou Mercadante.

Marco Aurélio também tem dito que não quer descascar o abacaxi petista.

Berzoini e Nilmário podem aceitar a missão. "Não quero apresentar meu nome como reivindicação individual, assim como Tarso tem motivos fortes para justificar a não-candidatura. Continuo defendendo o nome dele como o melhor", disse Berzoini.

Mercadante, no entanto, está convencido de que é possível convencer Tarso a mudar de idéia. O senador defende a construção de um novo bloco no PT. "Vamos promover o diálogo com todos os grupos para repactuar o partido", pregou.

Na quarta-feira, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com o ministro da Educação e pediu a ele que ajude o PT a recuperar sua imagem. "Isso eu vou fazer. Deixo o ministério para ajudar o governo e o PT a sair da crise. Não estou pensando em lances posteriores nem em projetos pessoais", argumentou, quando indagado se pretenderia entrar na corrida ao governo do Rio Grande do Sul, em 2006.

Tarso enfrenta ainda a resistência do ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que presidiu o PT de 1995 a 2002. Na quarta-feira, depois de ouvir os apelos de Lula durante viagem a Recife, Tarso teve uma conversa com Dirceu, em Brasília. "Tenho boas relações pessoais, mas divergências políticas com o Dirceu", definiu. "Eu disse a ele que o trabalho que venho desenvolvendo no PT, para adotar uma cultura ética nova, barrará a cultura política que gerou esses problemas, mas isso não significa desrespeito a dirigentes anteriores."

Amigo do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, Dirceu chegou a dizer que não aceitará uma disputa entre éticos e não-éticos do partido. "Não tem nada disso. Vamos olhar daqui para a frente", afirmou Tarso.

Delúbio chegou a comentar que participará da reunião de hoje do Campo Majoritário. Mas, ao que parece, enfrentará hostilidades. "Não há nenhuma razão para que ele participe desse tipo de reunião. Ele não tem nada a contribuir com esse processo", disse Berzoini.

Além de Genoino, Silvio e Delúbio, outros nomes devem ser substituídos na chapa do Campo Majoritário, como o do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP). Nesta semana, a CPI dos Correios descobriu que a mulher de João Paulo, Márcia Regina Cunha, sacou R$ 50 mil do Banco Rural no ano passado, numa operação autorizada pelo publicitário Marcos Valério, apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como operador do mensalão.