Título: Scotland Yard atira para matar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Internacional, p. A14

Agentes da Scotland Yard à paisana mataram ontem na estação metroviária de Stockwell um homem de aparência asiática que perseguiam. "Ele não obedeceu a uma ordem expressa de parar para averiguações", justificou o chefe da corporação, Ian Blair. Os agentes envolvidos participam das investigações dos atentados de quinta-feira, assumidos ontem pelas Brigadas Abu Hafs al-Masri, da Al-Qaeda.

A vítima, que teria saído de uma casa próxima de Stockwell vigiada pela polícia, não é nenhum dos quatro suspeitos dos atentados de quinta-feira, cujas imagens foram divulgadas ontem pela Scotland Yard.

"Se você tiver pela frente alguém que pode detonar uma bomba, justifica-se plenamente a política de atirar para matar", ressaltou o prefeito de Londres, Ken Livingstone. Os agentes da Scotland Yard, que tradicionalmente andavam desarmados, agora portam armas. E estariam adotando política idêntica à dos serviços antiterroristas israelenses: atirar sem vacilar na cabeça dos suspeitos para evitar detonar acidentalmente uma eventual bomba.

"Perseguido pelos agentes, a vítima pulou uma barreira de metal da estação e correu em direção a um trem do metrô", contou Mark Whitby, um passageiro. "Ele tropeçou antes de entrar no vagão. Foi agarrado pelos agentes, lançado ao chão e morto com cinco tiros. Parecia uma raposa acossada. Estava petrificado." Segundo ainda a testemunha, a vítima não carregava nada, mas vestia um pesado abrigo, algo bem estranho no escaldante verão europeu.

"Estávamos no interior do vagão e de repente ouvimos alguém gritar 'afastem-se, afastem-se'", disse outro passageiro, Briony Coetsee. "Logo em seguida ouvimos vários disparos de revólver", acrescentou.

Esse incidente deixou alguns passageiros em pânico e provocou uma breve interrupção da circulação de trens das linhas Northern e Victoria.

A Scotland Yard divulgou imagens feitas por câmeras de vídeos de quatro suspeitos dos atentados de quinta-feira, ocorridos nas estações metroviárias de Warren Street, Oval e Shepherd's Bush, e no ônibus 26. Uma delas mostra um homem saindo da estação de Warren. Outra apresenta um jovem na estação Oval, usando uma camiseta preta, onde se lê Nova York. A terceira exibe um indivíduo de bigode no interior do ônibus, vestindo camiseta cinza com o desenho de uma palmeira. A imagem do último suspeito foi tomada na estação Westbourne Park. Dali, ele partiu para a estação Shepherd's Bush.

A Scotland Yard pediu a cooperação da população para descobrir a identidade e o paradeiro dos suspeitos. Batidas policiais à procura de pistas continuaram ontem na capital e cidades do norte da Inglaterra. Dois novos suspeitos foram detidos. E outros dois, presos na quinta-feira, libertados.

As Brigadas Al-Masri haviam assumido a autoria também dos atentados do dia 7, em Londres, e dos de Madri (2004) e Istambul (2003). O grupo voltou exigir a retirada das tropas anglo-americanas do Iraque.