Título: ONGs discutem aliança para proteger o cerrado
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2005, Vida&, p. A18

Três organizações não-governamentais negociam a formação de uma Aliança pelo Cerrado, voltada a proteger os 30% a 40% que restam do bioma sem prejudicar o desenvolvimento socioeconômico da região. A Conservação Internacional (CI), o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e The Nature Conservancy (TNC) desenham um acordo para juntar esforços e traçar estratégias de preservação com produtores locais - pequenos e grandes -, governo e moradores. Se aprovado, pode ser formalizado dentro de algumas semanas, com a abertura das agendas de trabalho na região entre os grupos.

"As três ONGs têm diferentes abordagens (para a questão ambiental), então pode haver uma sinergia", afirma João Campari, diretor do programa de savanas centrais da TNC. Para Ricardo Machado, diretor da CI para o cerrado, "a intenção é trabalhar em zonas estratégicas para a conservação".

O cerrado é uma das áreas naturais mais ameaçadas do País. Uma piada entre biólogos conta que um professor dá aula sobre os biomas brasileiros. Após longas explicações sobre a Amazônia e a mata atlântica, ele começa a falar sobre o cerrado: "Ótimo lugar para plantar soja". E passa para a caatinga.

A história reflete duas facetas. O agronegócio elevou a pressão sobre o ambiente e forneceu um gancho para que o Código Florestal seja deixado constantemente de lado: segundo a legislação, uma propriedade rural no cerrado deve manter 20% da área como reserva legal, além das áreas de proteção permanente, como matas ciliares e topo de montanhas - o que nem sempre acontece.

Ao mesmo tempo, os estudos científicos sobre o cerrado são insuficientes, mas indicam que o bioma possui importantes sistemas naturais que serão perdidos, em breve, caso não sejam preservados.

Apenas 4,1% do cerrado se encontra protegido em unidades de conservação. Uma moção pelo aumento desta área foi criada pelos participantes do 19º Encontro da Sociedade da Biologia da Conservação (SCB), que reuniu pesquisadores e ambientalistas em Brasília na semana passada, e será entregue à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.