Título: Genu, mais do que um intermediário, operava duas franquias dos Correios
Autor: Eduardo Kattah e Angélica Santa Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2005, Nacional, p. A4

João Cláudio Carvalho Genu, o assessor do deputado José Janene (PP-PR) que operava o mensalão do partido do seu chefe, conforme admitiu esta semana ao Ministério Público Federal, foi mais do que um mero intermediário no esquema de corrupção que o governo do PT montou para comprar a lealdade de sua base aliada no Congresso. Genu beneficiou-se pessoalmente como concessionário dos serviços do Correio. A informação foi dada pelo próprio assessor em viagem que fez a Washington, em novembro, acompanhando Janene e outros parlamentares a uma reunião do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. No encontro, Genu surpreendeu alguns interlocutores por sua disposição de contar a pessoas que via pela primeira vez informações sobre como reforçava seu salário de chefe de gabinete. Sem que nada lhe tivesse sido perguntado, o assessor de Janene contou que tinha duas franquias dos Correios e ganhava "um bom dinheiro" canalizando correspondência do Congresso para suas agências.

NATURALIDADE

O fato de Genu ser um servidor público - é funcionário do Ministério da Agricultura licenciado para atuar na Câmara - e gabar-se de beneficiar-se de uma rendosa concessão de serviço público chamou a atenção de quem ouviu seu animado relato. O assessor, no entanto, não pareceu estar preocupado com o óbvio conflito de interesse entre suas duas atividades oficiais e falou sobre as franquias com grande naturalidade, segundo seus interlocutores.

A revelação do esquema de corrupção montado nos Correios, que está na origem do escândalo que engolfa o governo Lula, reavivou a memória desses interlocutores sobre a passagem de Genu por Washington, lembrada também porque suava dentro das roupas de inverno demasiado quentes que vestia nos dias de outono em que esteve na capital americana.

Os interlocutores do assessor dizem que não se surpreenderam ao ler, no início do escândalo, que Genu tinha coleção de carros incompatível com o salário de chefe de gabinete de Janene.