Título: Publicitário freqüentava gabinete de parlamentares
Autor: Eduardo Kattah e Angélica Santa Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2005, Nacional, p. A4

João Cláudio de Carvalho Genu, assessor do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), revelou no depoimento que deu à Polícia Federal sexta-feira que o publicitário Marcos Valério era assíduo freqüentador dos gabinetes de parlamentares. Genu disse que conheceu Valério em "outubro ou novembro do ano passado", em uma das várias visitas que ele fez a Janene. O assessor contou ter se encontrado "outras vezes" com o empresário nos corredores do Congresso. A última vez que o viu por lá foi no início deste ano. No depoimento, o assessor falou ainda sobre um "encontro casual" de Valério com Janene em um hotel de São Paulo, cujo nome disse não se lembrar. Afirmou que os encontros de Janene com o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, eram freqüentes, e que recebia ordens do deputado de ligar várias vezes para a sede do PT em Brasília à procura de Delúbio.

Genu disse ter acompanhado Janene a vários órgãos. Citou o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Eletrobrás, Petrobrás e Furnas, onde o deputado "participava de audiências formais com Dimas Toledo" (ex-diretor da empresa, afastado por suspeita de envolvimento na formação de uma caixinha para os partidos da base aliada do governo).

Segundo o assessor, todas as cinco vezes em que esteve no IRB era para acompanhar pessoas, a pedido do PP, ao gabinete do diretor comercial, Luiz Lucena, que era vinculado ao partido. E disse ter ido com Janene em visitas à Corretora Bônus-Banval, onde trabalhava Michele Janene, filha do líder do PP.

Ele declarou à PF desconhecer o motivo pelo qual a agência 2S Participações, pertencente a Renilda Santiago de Souza, mulher de Valério, depositou dinheiro para a Bônus-Banval. Pelo que revelou de seus contatos com a diretora-financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, ficou claro que ela agia com os demais funcionários do Banco Rural, identificando as pessoas que recebiam dinheiro.

Certa vez, disse ter sido informado por um dos empregado do banco de que Simone o aguardava em seu quarto no Hotel Gran Bittar. Lá chegando, subiu direto a seu encontro, mas não entrou no quarto. Ela o recebeu na porta, onde lhe entregou um "envelope de tamanho grande" contendo dinheiro, após ele assinar "um ou dois recibos".

DETALHES

O depoimento à PF de Francisco de Almeida Rego, ex-tesoureiro da agência do Rural no Brasília Shopping, confirma que todas as pessoas que receberam dinheiro das contas de Marcos Valério eram previamente identificadas. A operação se dava por intermédio de uma autorização de saque em que constava o nome da pessoa que iria sacar o dinheiro e o número do cheque da empresa SMPB.

Antes de entregar o dinheiro, Francisco disse que era exigida a carteira de identidade original do sacador, cuja cópia era anexada à autorização que vinha por fax. Segundo ele - tal qual ocorria no conto de Ali Babá e os 40 Ladrões, com o Abre-te Sésamo - havia uma senha de aproximação dos sacadores. Eles diziam: "Vim pegar uma encomenda." Era o início da operação.