Título: Oposição quer que Dirceu explique saque no Rural
Autor: Sérgio Gobetti e Sheila D Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2005, Nacional, p. A6

A oposição aproveitará a suspeita de que um assessor direto do ex-ministro José Dirceu figura na lista do mensalão para convocá-lo a depor na CPI dos Correios, mas quer mais do que isso. O objetivo é também colocar no banco dos réus o assessor especial da Presidência Luiz Gushiken, um dos articuladores dos petistas nos fundos de pensão e, até pouco tempo atrás, responsável pelos contratos de publicidade do governo. "Cada vez as coisas começam a se acercar mais do núcleo de poder, e a nossa estratégia é não deixar que Marcos Valério e o PT restrinjam tudo a José Dirceu", afirma o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS). Segundo ele, a convocação do ex-ministro é irreversível, já que o próprio PT o teria abandonado, tentando satisfazer a oposição. "O Berzoini (Ricardo Berzoini, secretário-geral do PT) e outros menos notáveis no PT estão dispostos a entregar a cabeça do Dirceu sem nenhum pudor", diz Onyx.

O requerimento para convocação de Dirceu aguarda votação algum tempo na CPI. O ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-secretário-geral Silvio Pereira fizeram de tudo para livrá-lo do escândalo. Mas as mudanças na cúpula do partido deixaram o ministro completamente isolado e sem apoio interno. Essa mudança fica clara pela própria evidência que justificaria sua convocação: o aparecimento do nome de um assessor próximo, Roberto Marques, o Bob, na lista de receptores do dinheiro da SMPB, empresa de Marcos Valério. Há mais de duas semanas o nome Roberto Marques apareceu na lista de sacadores e até hoje não existe uma prova de que seja realmente ele, pela ausência de um RG na autorização de saque, mas poucos parlamentares têm dúvida de que só pode se tratar de Bob.

A diretora-financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, deve confirmar isso em seu depoimento hoje à Polícia Federal, assim como a mulher de Marcos Valério, Renilda, também disse à CPI, na semana passada, que Dirceu participou de várias reuniões com o Banco Rural e o BMG, supostamente para tratar dos empréstimos ao PT que, na versão oficial, teriam servido para cobrir despesas não contabilizadas de campanha. "Havia um zelo do PT e do governo com ele e isso vinha adiando a definição. Agora, não tem jeito", afirma o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).

Independentemente do caso de Roberto Marques, a tese dos oposicionistas é que dificilmente Delúbio Soares e Silvio Pereira teriam montado um esquema de financiamento do PT e da base aliada como o que está aparecendo sem consentimento de seu chefe. "Delúbio, Silvinho, Roberto Marques são todos filhotes. Então está na hora do papai dizer o que esses seus filhotes andaram fazendo por aí", completa Paes.