Título: Maioria estreita leva governo a tentar esvaziar CPI dos Correios
Autor: Christiane Samarco e Sheila D Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2005, Nacional, p. A7

O governo está montando uma operação política para tirar os holofotes da CPI dos Correios e deslocar as investigações mais explosivas, em que as denúncias de corrupção envolvem petistas do governo e do Congresso, para a CPI do Mensalão, que nem começou a trabalhar. Líderes da base aliada trabalham para que as denúncias não relacionadas aos Correios sejam tratadas na nova CPI porque é lá que o governo tem folga maior de votos. Enquanto no Mensalão a maioria governista é de oito parlamentares; nos Correios, os aliados têm apenas quatro votos a mais que a oposição.

Ao mesmo tempo, os governistas também decidiram rever a estratégia de defesa na CPI dos Correios. A revisão ocorreu por que foi desmontada a versão de que a movimentação financeira registrada entre o PT e o empresário Marcos Valério era fruto apenas de empréstimos tomados pelo publicitário a pedido do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, para quitar dívidas partidárias. Petistas e aliados envolvidos nas denúncias insistirão na tese de que todo o dinheiro do esquema destinava-se a financiar campanhas eleitorais. Dirão que o que dá mais visibilidade ao caso é o fato de a operação ser feita de forma centralizada, em razão das peculiaridades do PT.

O raciocínio neste caso é que, diferentemente de outras grandes legendas, como o PMDB, a estrutura partidária do PT nos Estados é precária. O que explicaria que a distribuição de recursos de campanha para as regionais fosse centralizada na figura do tesoureiro nacional.

O problema é que, ao concentrar as operações, o PT potencializou a repercussão. O partido também leva desvantagem porque a centralização torna mais fácil a identificação do esquema de caixa 2. Por isto, faz questão de retroceder as investigações a 1995, mostrando que financiamento ilegal não é uma invenção petista.

Decididos a ter mais controle da situação, os líderes e presidentes dos partidos aliados na Câmara e no Senado devem se reunir amanhã. Para evitar polêmicas, eles já decidiram que o deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) deve ser mantido na relatoria da CPI, embora figure na lista dos que receberam dinheiro de Marcos Valério.

Mas não será tarefa fácil transferir para a nova CPI todas as denúncias de contribuições ilegais e mensalão. A oposição, que já deslocou seus melhores quadros para o inquérito dos Correios, negocia uma solução intermediária. PSDB e PFL querem os Correios apurando a origem do dinheiro, enquanto os membros da CPI do Mensalão checam quem recebeu.

A nova CPI deve começar quente, para ofuscar o inquérito dos Correios. Para abrir a série de depoimentos, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) foi contatado pelo presidente da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), e aceitou falar nesta quarta-feira. Jefferson avisou que estaria reunindo novas denúncias para garantir "ibope alto" ao inquérito.