Título: TAP apresentará plano para a Varig
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2005, Economia & Negócios, p. B9

Empresa portuguesa pretende emitir títulos da dívida para capitalizar a companhia brasileira e comprar boa parte da frota

RIO - A estatal aérea portuguesa TAP vai apresentar seu plano de reestruturação da Varig na última semana de agosto e planeja fazer um aporte de capital para ter 20% das ações da companhia até o fim deste ano, segundo o presidente da empresa, o brasileiro Fernando Pinto, que comandou a Varig de 1996 a 2000. Em entrevista ao Estado, o executivo disse que o plano é reduzir a participação da Fundação Ruben Berta, dona de 87% das ações da empresa, entre 5% e 10%, com seu "natural" e conseqüente afastamento da gestão da Varig. O grupo português é um entre cinco investidores anunciados pela conselho de administração da Varig que estão se candidatando a participar da reestruturação da empresa. O plano da TAP, aliás, era o único que estava sendo analisado pela Varig - entre 10 propostas apresentadas desde o início deste ano - antes de a empresa se enquadrar na Lei de Recuperação Judicial, aprovada pela Justiça do Rio em 22 de junho. Com o início desse processo, porém, a TAP anunciou que ia esperar para definir sua participação.

Agora, a empresa portuguesa corre na frente, com a assessoria do JP Morgan, e já delineou as linhas gerais da reestruturação da Varig. Segundo Pinto, a TAP fará uma emissão de títulos de dívida, como debêntures, para poder aplicar na empresa brasileira. E o investimento, não revelado, poderá ser feito pela TAP ou pela sua holding, a TAP SGPS. A prioridade é "quase eliminar" a dívida da Varig e comprar a totalidade de sua frota, hoje composta por cerca de 80 aeronaves.

"Estamos analisando com potenciais investidores privados a possibilidade de eles participarem nos 20% ou aumentarem esse investimento para além dos 20%, o que pode ser feito por meio de ações preferenciais sem direito a voto", revela Pinto. Segundo ele, há cinco grupos interessados nessa alternativa, entre portugueses, europeus e brasileiros. O objetivo, conta, é fazer um acordo de acionistas para formar um bloco de controle.

Uma forma que a TAP estuda para reduzir o endividamento da Varig, estimado em até R$ 9 bilhões, é negociar com os credores internacionais. "Nós queremos comprar o endividamento da Varig lá fora, reduzindo a dívida por meio de um aumento de capital", diz Pinto. O plano é comprar créditos de credores internacionais, provavelmente com a negociação de um deságio. Depois haveria a conversão em participação acionária.

Outra maneira de reduzir a dívida da Varig é negociar o débito com o governo, que representa dois terços do total. Segundo Pinto, uma das possibilidades seria levar em consideração o acerto de contas com os cerca de R$ 3 bilhões que a Varig ganhou na Justiça, referentes a perdas com o congelamento de tarifas entre os anos 80 e 90. "Mas temos outras maneiras de fazer", diz o executivo, sem dar detalhes.

A companhia portuguesa quer manter no Grupo Varig as três empresas de aviação (Varig, Nordeste e Rio Sul), a Varig Engenharia e Manutenção (VEM), a VarigLog e a Sata, empresa de serviços de apoio terrestre. Pinto afirma que o único ativo que seria vendido, ou negociado com a Fundação Ruben Berta, é a rede de hotéis Tropical.

"O primeiro passo é a Varig aceitar e protocolar esse plano. Depois, o juiz tem de aprová-lo. Em seguida, os credores também têm de aceitar e aprovar o plano de reestruturação, o que tem de ser feito em até 90 dias depois da aprovação da Justiça", explica o presidente da TAP. A Varig, por sua vez, tem até meados do dia 10 de setembro para apresentar o plano de reestruturação aos credores, à Justiça e ao Ministério Público do Rio Grande do Sul, que é o órgão que fiscaliza as fundações gaúchas. Isso porque a sede da Fundação Ruben Berta é em Porto Alegre.

Pinto, que foi demitido da Varig em 2000, prefere não classificar a possibilidade de a TAP se tornar a administradora e maior investidora individual da Varig como uma espécie de volta por cima. "A vida é feita de etapas. A etapa da Varig é importante, mas não tem nada de diferente nisso", considera.