Título: 'Ela não tem condições psicológicas para depor'
Autor: Gilse Guedes e Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Nacional, p. A6

Afirmação é do advogado de Marcos Valério, sobre Renilda, que só chora, não tem se alimentado e não dorme

Desde quando o marido foi acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o operador do mensalão, há pouco mais de 40 dias, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza foi obrigada a alterar profundamente a sua rotina. Reclusa, a discreta mulher do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza não consegue disfarçar o abatimento. Recentemente, desabafou com uma pessoa próxima e disse que a sua família está sendo "destruída" pelas constantes denúncias envolvendo o marido e as suas empresas. Boa parte do tempo, Renilda passa na casa localizada no luxuoso condomínio Retiro do Chalé, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte. Nos últimos dias, sua apreensão aumentou com a decisão da CPI dos Correios de convocá-la para depor.

"Ela está extremamente abalada com tudo isso", afirma Marcelo Leonardo, advogado do casal. Segundo ele, Renilda "não tem condições psicológicas de depor na comissão", da forma como as sessões estão sendo conduzidas.

Na mansão, apelidada de "fortaleza" pelos vizinhos, a mulher de Valério acompanha angustiada, pela TV e pelos jornais, os desdobramentos da crise. Segundo amigos, chora muito e não dorme direito.

A defesa do casal alega que, embora Renilda seja sócia de várias empresas - inclusive das agências SMPB Comunicação e DNA Propaganda, por meio da Graffiti Participações -, administra apenas o orçamento familiar. Ela sempre outorgou procuração para que Valério atuasse como gestor das empresas. "Ela praticamente nunca pôs os pés naquelas agências", conta uma pessoa que trabalhou para o empresário.

A exemplo do marido, Renilda tem aversão aos holofotes. Nas eventuais reuniões ou festas que Marcos Valério promovia em sua residência, na capital mineira, ela preferia o grupo familiar ao político.

DASLU MINEIRA

"Ela é elegante e refinada. Gosta de consumir, mas não de ostentar", comentou a vendedora de uma de suas lojas preferidas na capital mineira, a M & Guia, de propriedade de Sheila e Erika dos Mares Guia, respectivamente mulher e filha do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia (PTB).

Antes de seu marido ser apontado como operador do mensalão, Renilda freqüentava semanalmente a requintada maison, tida como a "Daslu de Minas", no bairro de Lourdes. "Vinha de manhã cedo, quando tinha menos gente", confirmou outra funcionária.

Comprava tanto que se tornou uma das clientes especiais. Desde que seu marido caiu em desgraça, Renilda deixou de circular pelos corredores, onde se pode adquirir camisetas a R$ 350 e sandálias a R$ 600. "Ela nunca mais apareceu e nem sei se volta", arriscou a atendente.

Há mais de um mês, Renilda nem o marido também não são vistos no restaurante Monti Cielo, no bairro Savassi, o favorito do casal. Durante a semana, quando estava em Belo Horizonte, Valério costumava almoçar no local com sócios e clientes. Aos domingos, levava a mulher e os dois filhos.