Título: Dirceu teme depoimento de Renilda
Autor: Ana Paula Scinocca e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Nacional, p. A7

Declarações de mulher de Valério à CPI preocupam ex-ministro, que vê semana como decisiva à crise, 'para o bem ou para o mal'

O deputado José Dirceu (PT-SP), ex-chefe da Casa Civil, disse a amigos, em conversas reservadas, que os desdobramentos da crise serão definidos nesta semana. Para o bem ou para o mal. Dirceu está preocupadíssimo com o depoimento de Renilda Santiago Fernandes, mulher do empresário Marcos Valério, marcado para hoje na CPI dos Correios. Dirceu sabe que sua situação pode se tornar ainda mais crítica, a depender do desempenho de Renilda. O deputado lamenta seu isolamento político e não tem falado com o presidente Lula, de quem se distanciou desde que saiu do governo.

Dirceu confirmou ontem sua disposição em prestar depoimento ao Conselho de Ética da Câmara na terça-feira da semana que vem. Ele foi convidado a dar esclarecimentos, na condição de testemunha, no processo que apura a quebra de decoro parlamentar do presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson (RJ). O petebista acusa Dirceu de ser o mentor do mensalão, suposto esquema de pagamento de mesada a deputados da base aliada do governo.

Jefferson ameaça entrar com representação contra Dirceu no próprio Conselho de Ética, o que colocaria o petista diante da possibilidade de ser submetido a duas sabatinas: uma na condição de testemunha e outra na de réu. O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), disse que isso não deve ser motivo de preocupação. Ele antecipou que já está em estudo, pelo departamento jurídico, a possibilidade de um único depoimento ter validade para os dois processos: o movido a pedido do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, contra Jefferson e o a ser instalado contra Dirceu por solicitação do presidente licenciado do PTB.

Além de prometer entrar com representação contra o ex-ministro da Casa Civil, Roberto Jefferson já anunciou que também vai solicitar abertura de processo, via PTB, por quebra de decoro parlamentar contra os líderes do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), e do PP, José Janene (PR), e os deputados Carlos Rodrigues (PL-RJ) e Valdemar Costa Neto (SP).

A estratégia de Jefferson é pressionar os cinco parlamentares para que renunciem aos seus mandatos. A renúncia só pode ocorrer antes do início do processo no Conselho de Ética. Até ontem, o PTB de Jefferson ainda não havia protocolado o pedido de abertura de investigação contra os cinco parlamentares. Enquanto Dirceu é apontado por Jefferson como mentor do mensalão, os outros quatro deputados teriam recebido a mesada, segundo o petebista. Para esta semana, não há depoimentos previstos no conselho. Os parlamentares que integram o grupo estão em recesso branco. Apenas Izar e o relator Jairo Carneiro (PFL-BA) devem se reunir amanhã para analisar requerimentos.

Izar também aguarda as explicações do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia (PTB).

Eles vão responder, por escrito, diante do precedente aberto por Izar.

Perillo diz ter alertado o presidente Lula sobre o mensalão em viagem presidencial à cidade de Rio Verde (GO). Já Walfrido terá de confirmar se de fato foi alertado por Roberto Jefferson sobre o suposto esquema do mensalão.