Título: 'Fui falar com meu irmão, estava indignado'
Autor: Carmen Pompeu Especial para o Estado FORTALEZA
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Nacional, p. A8

Genoino admite ter ido ao hotel, mas diz que se recusou a falar com Kennedy Moura

José Genoino confirmou ontem que esteve no Parthenon Hotel na manhã de 10 de junho, domingo, 24 horas depois de ter deixado a presidência do PT, mas negou que tenha se reunido com Kennedy Moura - ex-assessor especial do Banco do Nordeste, supostamente envolvido com José Adalberto da Silva, capturado em flagrante com R$ 209 mil em uma pasta de náilon e US$ 100 mil na cueca. "Fui chamado pelo meu irmão (deputado estadual José Nobre Guimarães, do Ceará) para uma reunião, eu estava perplexo e angustiado com tudo aquilo", disse Genoino. "Eu disse a ele: olha, temos que esclarecer rapidamente essa história porque estou pagando um preço que não tem cabimento." Genoino disse que "falou duro" com o irmão. A reunião durou meia hora no flat de Danilo Camargo, presidente da comissão de ética do PT. "O Kennedy ficou fora, eu deixei claro que não iria me encontrar com ele. É claro que conheço o Kennedy, de longa data, assim como conheço todo mundo no Ceará."

"Cheguei por volta de 10h30, subi e disse ao meu irmão que só iria falar com ele e mais ninguém", contou Genoino. "Foi uma conversa muito franca, eu estava indignado." O ex-presidente do PT lembrou que, no dia seguinte, entregou petição à Polícia Federal pedindo urgência nas investigações. "Estou sofrendo muito com essa história maluca, está muito doído", desabafou Genoino. "Não tenho nada com isso, o PT não tem nada com isso."

Genoino reiterou que a conversa com Guimarães ocorreu porque seu irmão o chamou. "Eu o avisei: não vou conversar com o Kennedy, me recuso a vê-lo." Segundo Genoino, não havia sentido em falar com Kennedy. Ele anotou que a reunião foi no Parthenon porque queria evitar assédio da imprensa. A cúpula do partido estava reunida em um hotel no centro de São Paulo. "Quando meu irmão saiu aproveitei e fui embora para não ver o Kennedy."

Danilo Camargo confirmou que esteve com Genoino no mesmo dia em que participou de uma reunião entre Kennedy, Guimarães e Francisco Rocha, coordenador nacional do Campo Majoritário. Camargo disse que Genoino não participou dessa reunião. "Basta checar os horários das gravações." Segundo Camargo, o primeiro encontro, com a participação de Kennedy, Guimarães e Rocha, ocorreu antes das 7 da manhã.

A reunião com Kennedy, de acordo com Camargo, serviu para discutir a prisão de Adalberto, ocorrida dois dias antes em Congonhas. Ele negou que Kennedy tenha sido pressionado a assumir a culpa e a responsabilidade pelo dinheiro "por razões de Estado", conforme declarou o ex-assessor do Banco do Nordeste. "Ninguém pressionou ninguém".

Camargo disse que saiu do flat para buscar Genoino em sua casa, no Butantã, assim que acabou a reunião. "Relatei a conversa com Kennedy e Guimarães, mas a questão do Ceará foi até menor porque não tínhamos informação."