Título: Scotland Yard desculpa-se, mas mantém ordem de atirar para matar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2005, Internacional, p. A14

Ian Blair, chefe da polícia, classifica morte de Jean Charles de Menezes de tragédia, mas admite que outras podem ocorrer

LONDRES - O chefe da Scotland Yard, Ian Blair, classificou de tragédia a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, executado na sexta-feira por agentes da corporação no interior de uma estação do metrô londrino por suspeita infundada de terrorismo. Ele pediu desculpas à família, mas avisou: a ordem de atirar para matar está mantida. "Isto é uma tragédia. A Scotland Yard aceita sua responsabilidade total no incidente. Para a família, só posso expressar um profundo sentimento de pesar", disse Blair.

"Pedir desculpas não basta. Acredito que a morte de Jean Charles resultou de pura incompetência policial, reagiu Alex Pereira, primo da vítima, em entrevista à BBC (rede pública britânica de rádio e TV).

"Tentaremos fazer as coisas direito no futuro, mas mais pessoas poderão ser abatidas na caça aos terroristas suicidas", ressaltou o chefe da Scotland Yard, insistindo em manter a ordem de atirar para matar dada a seus agentes.

O ministro do Interior britânico, Charles Clarke, descreveu a morte de Menezes como "uma tragédia absoluta". E confirmou que o brasileiro não tinha nenhum vínculo com os atentados de quinta-feira. A Scotland Yard anunciou a criação de uma comissão policial independente para investigar todas as circunstâncias da morte de Menezes (ler ao lado).

O grave incidente não interferiu nas blitze antiterrorista da Scotland Yar, que ontem prendeu mais um suspeito de envolvimento no fracassado ataque do dia 21 contra três composições do metrô e um ônibus, que teria deixado apenas um ferido - um dos atacantes. As autoridades policias adiantaram que o suspeito foi detido em Tulse Hill, zona sul da capital, perto de onde o eletricista brasileiro morava.

O chefe da Scotland Yard disse que as investigações estão centralizadas na identificação e captura dos quatro suspeitos filmados por câmeras de vídeo em estações do metrô, na manhã de quinta-feira. Blair disse acreditar que a Al-Qaeda, rede terrorista de Osama bin Laden, está implicada nos atentados de quinta-feira e do dia 7 (56 mortos e 700 feridos).

"Estamos tentando penetrar numa vasta rede que inclui fabricantes de bombas, produtos químicos, financiamentos e pessoas implicadas no recrutamento de jovens", acrescentou o chefe da Scotland Yard em entrevista à cadeia de televisão Sky News.

A Justiça prorrogou por mais alguns dias a prisão de dois homens detidos na sexta-feira na estação Stockewell, onde falhou um dos atentados.

Blair destacou que na manhã de domingo agentes especializados realizaram várias explosões controladas de pacotes suspeitos, abandonados na zona norte da capital. Ele não deu detalhes.