Título: Sem dinheiro, PT decide fechar escritório em Brasília
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Nacional, p. A8

'Não podemos mais arcar com esses gastos', diz Berzoini; aluguel, condomínio e IPTU custam R$ 25 mil por mês

Símbolo da era de ostentação no PT, o luxuoso escritório político do partido, em Brasília, fechará as portas domingo. Decorada com painel gigante que traz a foto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a sede do PT, no Centro Empresarial Varig, tem despesas dignas de uma pequena empresa. Lá trabalham 26 funcionários, que não sabem o seu destino. Somente entre aluguel, condomínio e IPTU, o partido paga hoje R$ 25 mil por mês. "Não podemos mais arcar com esses gastos", afirmou o secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). "Vamos ter de fazer um forte superávit primário porque, se não fizermos isso, o partido fecha", completou o secretário de Mobilização Popular do PT, Francisco Campos. A ironia é que, até agora, o PT era um dos maiores críticos do superávit primário adotado pela equipe econômica.

Com um rombo que supera os R$ 160 milhões, se computadas as dívidas contraídas nos últimos dois anos e meio - incluindo nesse cálculo as estimativas de despesas não contabilizadas pelo ex-tesoureiro da legenda Delúbio Soares -, o PT fará economia de guerra. O novo tesoureiro, deputado José Pimentel (CE), calcula que será preciso cortar R$ 1,2 milhão por mês para que, em um ano e meio, o partido consiga "respirar". "Mas não vamos pagar o que não está no papel", insistiu Berzoini.

Além da sede em Brasília, a tesourada vai atingir outros luxos. Dos 10 carros do PT, seis serão vendidos, incluindo dois Marea blindados. As emissões de passagens aéreas e vauchers para hospedagem também estão suspensas por 60 dias, porque, além de tudo, o PT não tem mais crédito na praça.

O corte vai tornar mais modesta a campanha interna para a presidência do partido. A eleição com voto dos filiados está marcada para 18 de setembro. "Estou fazendo um apelo para que os representantes das chapas banquem passagens e despesas com hotel e alimentação", contou Campos. "As tendências do PT devem entender que vivemos outro momento e cada um precisa dar sua cota de sacrifício, para não sermos obrigados a adiar a eleição."

Campos disse que o processo de escolha da cúpula estava orçado em R$ 2,6 milhões. "Em seguida, passou para R$ 1,5 milhão e agora, depois que o Delúbio levou o partido à bancarrota, ficará na faixa de R$ 600 mil, porque não vamos mais assumir despesas com hotel e material de campanha. Apenas o mínimo necessário."

Quando as finanças petistas eram administradas na prática pelo publicitário Marcos Valério, os dirigentes do partido também tinham as contas dos celulares pagas, até o limite de R$ 300. Tudo isso vai acabar.