Título: Troca na Infraero dura só 3 horas e abre nova crise
Autor: João Domingos e Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Nacional, p. A9

Presidente nomeia Tércio Ivan de Barros, mas por pressão de Dilma recua e decide pensar mais um pouco

A escolha do novo presidente da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) provocou mais uma crise no governo. Na tarde de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou o funcionário de carreira Tércio Ivan de Barros presidente da estatal. Mas três horas depois, por pressão da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Lula recuou e decidiu pensar mais um pouco, contou um auxiliar do presidente. Tércio é investigado pela Polícia Federal por suspeita de irregularidades em licitação na Infraero de São Paulo. Sua nomeação foi defendida pelo coordenador político do governo, Jaques Wagner. O candidato de Lula para o lugar de Carlos Wilson era o ex-deputado Airton Soares, expulso do PT em 1985 por ter votado em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral que escolheu o presidente na última eleição indireta realizada no País. A possibilidade de nomeação de Soares existiu até por volta do meio-dia. Mas, subitamente, o presidente mudou de idéia e optou pela solução interna. Como o convite a Tércio já havia sido feito, buscou-se desculpa, segundo a qual o presidente gostaria de fazer a cerimônia de posse coletivamente, e não individualizada. Tércio teria de esperar que outros diretores fossem nomeados, porque toda a diretoria da Infraero se demitiu.

Wilson deixou a presidência da Infraero para concorrer a uma vaga de deputado federal no ano que vem, a mesma justificativa dos ministros exonerados nos últimos dias. Jaques Wagner defendeu a indicação de Tércio por considerar que seria importantes para o governo fazer a despetização de mais uma estatal. Essa decisão, embora pequena, tirou do PT ministérios considerados ultra-estratégicos, como o das Cidades - criado pela concepção petista de administração com as entidades do movimento social urbano - e o da Saúde. O Ministério das Cidades foi entregue a Márcio Fortes, aliado do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). O da Saúde, a Saraiva Felipe, que até pouco tempo era um dos comandantes da oposição peemedebista.

Ao mesmo tempo, e com a mais grave crise da história do PT, Lula comandou intervenção na direção partidária. Pôs no partido três ex-ministros - Tarso Genro na presidência, Ricardo Berzoini na secretaria-geral e Humberto Costa na secretaria de Comunicação.

Quando foi escolhido presidente da Infraero, Carlos Wilson pertencia ao PTB. Mas migrou para o PT, quando o partido avançou sobre quadros de aliado. Sua cooptação rendeu dores de cabeça para o então presidente do PT, José Genoino. O deputado Roberto Jefferson (RJ), que presidia o PTB, pediu a demissão de Wilson.

Tércio Ivan de Barros está sendo investigado pela Polícia Federal por supostas irregularidades cometidas quando era superintendente regional da Infraero em São Paulo, por volta de 2002. O inquérito partiu de denúncias feita pela Associação dos Concessionários dos Aeroportos do Estado de São Paulo (Acaesp), encaminhada originalmente ao Ministério Público Federal. A denúncia da Acaesp aponta uma série de irregularidades em processos licitatórios, além de tratamentos diferenciados a alguns concessionários, em detrimento de outros.

Em uma das concorrências, para a escolha de uma empresa de cartões de telefonia internacional para se instalar em um quiosque, foi constatada a abertura de envelopes de preços enquanto ainda se discutia se algumas empresas estariam ou não habilitadas a participar da concorrência. A associação afirma que uma das empresas que ganhou a concorrência, que depois foi suspensa, não tinha sede no Brasil e tinha como controladora empresa falida com sede na Flórida.

No fim dos anos 90, antes de ser superintendente regional de São Paulo, Tércio Ivan de Barros foi diretor comercial da Infraero. Fontes no setor aéreo afirmam que ele tinha fortes ligações com Celso Cipriani, então presidente da Transbrasil. Teria sido sob sua gestão no Departamento Comercial da estatal que Cipriani transformou parte do hangar da Transbrasil, em Congonhas, em uma área da Target, empresa de táxi aéreo do empresário. Por lei, a transferência de área de concessão de uma empresa para outra teria de obedecer a uma licitação.

OPOSITOR

O ex-presidente da Infraero Carlos Wilson era um grande opositor do projeto da Transbrasil de montar uma empresa de carga com a OceanAir. Pelo projeto de Cipriani, a nova empresa teria os espaços que a Transbrasil mantém por medida cautelar, apesar de não voar desde dezembro de 2001.

O projeto foi apresentado à Infraero pela advogada Waleska Teixeira, filha de Roberto Teixeira, e afilhada de casamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Wilson defendia a adoção de medidas legais para devolver para a União os espaços em poder da Transbrasil.