Título: Brasil e África discutem hoje reforma da ONU
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2005, Nacional, p. A13

Vice-embaixador brasileiro na Organização diz que avanço das negociações depende do apoio de 35 países africanos

WASHINGTON - O vice-chefe da missão permanente do Brasil nas Nações Unidas, embaixador Henrique Valle, indicou, no sábado, um dos cálculos que determinarão a decisão que o País e seus parceiros do Grupo dos Quatro - Índia, Japão e Alemanha - tomarão esta semana: submeter ou não à votação a resolução sobre a ampliação do Conselho de Segurança da ONU, que apresentaram à Assembléia-Geral da organização, no início do mês. "Se sentirmos que temos mais de 35 votos africanos, queremos o voto em julho", disse. "Mas essa decisão é do G-4", acrescentou, emitindo sinais, pela primeira vez, de um possível recuo. A aprovação da resolução por maioria de dois terços dos 191 países membros da ONU - ou 128 - forçaria a discussão do tema. A esmagadora maioria reconhece que o Conselho de Segurança, dominado pelos vencedores da Segunda Guerra, deve mudar para refletir a realidade do começo do século 21. Mas não há acordo sobre como nem quando fazê-lo. Tanto os Estados Unidos como a China opõem-se à ampliação neste momento, por razões diferentes. A aprovação da proposta do G-4 não garantiria a ascensão de nenhum país a membro permanente, pois isso depende de novas negociações e eleições. Já a rejeição seria um desastre diplomático para os quatro países. A conquista de uma cadeira cativa na ONU é o principal objetivo da política externa da administração petista.

A decisão de ir ou não à votação depende crucialmente do resultado da reunião que os ministros das relações exteriores do G-4, entre eles Celso Amorim, e da União Africana (UA) têm hoje em Londres. Eles vão avaliar o resultados das negociações que seus embaixadores na ONU fizeram semana passada para tentar conciliar as diferenças entre as propostas de reforma do CS. O G-4 quer ampliar o conselho de 15 para 25 países, aumentando de 5 para 11 o número de membros permanentes, mas só os 5 atuais (EUA, China, Rússia, França e Inglaterra) manteriam o poder de veto.

Os novos integrantes do CS seriam eles próprios mais 2 países africanos. Sua proposta foi endossada por 30 países, a maioria não expressivos. Em sua proposta original, a UA, que representa 54 países, insistiu no direito a veto e propôs 5 em lugar de 4 membros não permanentes, sendo 2 africanos. Na sexta-feira, um grupo de países integrado pela Argentina, México, Colômbia, Itália e Paquistão, que não tem como aspirar a um lugar próprio num conselho ampliado, tentou embaralhar o debate apresentando proposta que limita a reforma à criação de 10 postos não permanentes.

Segundo fontes diplomáticas, nenhuma das três propostas está perto de obter o apoio de 128 países. Antes de o chanceler do Japão, Nobutaka Machimura, deixar Tóquio, seu porta-voz disse que se o resultado do encontro de hoje for positivo o ministro vai para Nova York aprofundar as discussões até o dia da votação, prevista, em princípio, para sexta-feira.