Título: PCC arrecada R$ 1 milhão por mês
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Metrópole, p. C3

O Primeiro Comando da Capital (PCC) tornou-se uma empresa lucrativa que arrecada até R$ 1 milhão por mês. Essa é a conclusão dos policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), que apreenderam a contabilidade e um arsenal com metralhadoras, fuzis e lança-granadas da facção criminosa, avaliado em R$ 500 mil. Os investigadores detiveram oito pessoas, incluindo um policial civil do Deic e Cynthia Giglioli da Silva, de 28 anos, namorada de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção, que está preso. Tudo isso foi descoberto em seis meses de investigação com 50 telefones grampeados e 500 horas de conversas gravadas. Os detidos serão acusados de formação de quadrilha. Alguns responderão ainda por tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Marcola será indiciado sob a acusação de associação para o tráfico, o que provocará sua permanência na penitenciária de segurança máxima de Presidente Bernardes.

"O PCC se reorganizava e a gente desorganiza", afirmou o delegado Godofredo Bittencourt Filho, diretor do Deic. Desta vez, os policiais descobriram que tinham um colega ajudando o bando. Era o investigador Paulo Humberto Mangini, do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra). "Ele colaborava com a facção e pôs em risco a vida dos colegas", disse Bittencourt. O policial foi preso.

Deflagrada na sexta-feira, a operação cumpriu 11 mandados de busca e apreensão em São Paulo. Num apartamento da Avenida Costa Barros, na Vila Alpina, os policiais acharam as mais importantes armas do bando. Foi para impedir a retirada delas do local que o Deic decidiu agir - um telefonema dado por Erik Faria, um chefe do PCC, havia ordenado a mudança de esconderijo.

No fim, os policiais apreenderam quatro revólveres, cinco pistolas, três espingardas, três fuzis, duas submetralhadoras, uma metralhadora calibre 30 e outra calibre 7,62 mm, 4 mil balas e um lança-granadas. Era a metade do que havia na lista de armas do almoxarifado da facção. Os policiais acharam ainda R$ 156 mil, US$ 2.300, quatro carros, uma moto, 43 comprimidos de ecstasy, 1 quilo de cocaína e 10 quilos de explosivos, que estavam com o investigador.

A prisão mais importante foi a de Deivid Surur, o DVD, contador do PCC. Ele tinha em casa uma Honda CB600 com a placa DVD-0157 - uma brincadeira que unia seu apelido e o número do artigo do código penal que pune o crime de roubo.

Os policiais obtiveram com ele provas de que o bando dividiu o Estado em sete áreas controladas por gerentes, chamados pilotos. Cada um deve arrecadar em sua região o dinheiro das contribuições de sócios em liberdade e do tráfico - o mesmo ocorre nas prisões.

O PCC ainda arrecadaria verba achacando perueiros e empresta dinheiro para quem quer montar sua quadrilha. Em abril de 2005, a contabilidade registrou R$ 52 mil para o "Bicho Papão", R$ 300 mil para o "Acerto do Boi"e R$ 1.500 para a "Dona Maria da Oficina".

Em abril, o PCC arrecadou R$ 647 mil e gastou R$ 473 mil. Cada sócio preso teve de pagar R$ 50 de contribuição e quem estava em liberdade arcou com mensalidade de R$ 500. Em agosto, a contribuição dos ladrões em liberdade subiria para R$ 1 mil, pois o PCC precisava de novas armas. "É como um condomínio que precisa cobrir despesa extras", disse o delegado Ruy Ferraz Fontes, do Deic.

Os policiais detiveram ainda Márcio Esteves, o Turim, de 24 anos, que arrecadava o dinheiro do tráfico na zona leste; Marco Antonio Martins, o Chulé, acusado de vender ecstasy para o PCC; Hélio Vieira, o Goiano, piloto do centro de São Paulo; Carlos Roberto de Oliveira Pires, o Beto, que arrecadava dinheiro das drogas, e Raimundo Nonato de Oliveira, o braço direito de DVD.