Título: SP e Rio têm boa avaliação em ranking de violência
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Metrópole, p. C8

Os índices de criminalidade nem sempre refletem como as pessoas se sentem nas cidades. Para moradores do Rio e de São Paulo, capitais que sofrem com a alta incidência de assaltos e homicídios e a atuação do crime organizado, a violência está em nível satisfatório. Já a população de Belo Horizonte e Belém demonstra alto grau de insatisfação com a criminalidade. Os dados são de pesquisa divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas, que mapeou a qualidade de vida e qual a avaliação da população sobre a violência em 11 regiões metropolitanas. Brasília lidera os dois rankings e Belém é a última colocada em ambos.

O responsável pela pesquisa, Fernando Blumenschein, disse que os dados não permitem explicar por que as duas maiores regiões metropolitanas do País ficaram tão bem colocadas na avaliação sobre violência. São Paulo e Rio ocupam, respectivamente, terceiro e quarto lugares na classificação.

"A pesquisa reflete o bem-estar da população, é diferente dos dados oficiais", disse o pesquisador. Para ele, uma hipótese possível para explicar a avaliação de cariocas e paulistanos sobre violência são os investimentos feitos no combate à criminalidade nessas regiões.

Blumenschein chamou a atenção para a posição ruim obtida por Belo Horizonte no que diz respeito à criminalidade. A cidade ficou em penúltimo lugar, saindo-se melhor apenas do que Belém.

Segundo o pesquisador, os dados obtidos no estudo são importantes para a construção de políticas públicas e relevantes do ponto de vista econômico. "Quanto piores as condições de vida, pior a produtividade da mão-de-obra, o que afeta a atração de capital e o investimento produtivo, e isso tem efeitos na capacidade de crescimento e geração de emprego nas regiões."

A coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Cândido Mendes, Julita Lemgruber, tem uma opinião diferente sobre a boa posição de Rio e São Paulo. Para ela, a pesquisa revela uma face perversa das grandes cidades: a resignação. "O cidadão se acostuma até com a tragédia. Quem está nessas cidades acaba resignado e perde a capacidade de se indignar." Segundo Julita, o fato de Belo Horizonte e Belém terem moradores mais insatisfeitos com a violência talvez decorra de uma deterioração mais recente das condições de segurança nessas áreas.

CRITÉRIOS

O trabalho da FGV foi feito com base nos dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), relativa ao período entre 2002 e 2003, que ouviu pessoas em 48.470 domicílios. Como não realizou novas entrevistas para desenvolver seu estudo, a FGV criou fórmulas para identificar na pesquisa do IBGE os dados sobre condições de vida nas regiões metropolitanas. Foram destacados 12 quesitos, como, entre outros, renda; quantidade e tipo de alimentos consumidos; avaliação de serviços como abastecimento de água, coleta de lixo, e fornecimento de energia; violência; e poluição ambiental.

O item violência foi o único que mereceu análise exclusiva. Os demais foram usados para compor o índice de qualidade de vida.