Título: Presidente do fundo recusou-se a mostrar documentos
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Nacional, p. A11

Citibank terceirizou sua gestão na Brasil Telecom à Angra Partners, a mesma que aproximou Sérgio Rosa do banco americano

Em julho de 2004, José Dirceu chamou a direção do Banco do Brasil. O então ministro soubera que a Vivo queria comprar a Telemig Celular e a Amazônia Celular, e a Previ, controladora das duas, estava atrapalhando. A venda parecia interessar à Previ, já que a partir deste ano a Vivo poderia montar operações em Minas e no Amazonas, e as operadoras da banda A perderiam valor. O Conselho da Previ era a favor da venda, mas o presidente Sérgio Rosa a rejeitou. A explicação que Dirceu ouviu foi a de que as duas operadoras pertenciam a holdings dirigidas pelo Opportunity. Sua venda geraria caixa de R$ 3,5 bilhões para Daniel Dantas, que poderia ampliar o seu controle sobre a Brasil Telecom. "Não quero que o Daniel mande na Brasil Telecom", teria dito Rosa.

Em setembro, com a ordem da Anatel, o Conselho recomendou a venda das ações da Brasil Telecom. Mas Rosa informou que já tinha decidido: sairia da Telemar, que tem quatro vezes o patrimônio da concorrente. O conselheiro Valmir Camilo, presidente da Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, resumiu a perplexidade geral: "Nunca vi alguém ter um Fusca e um Mercedes e optar pelo Fusca."

Rosa e Luiz Gushiken foram conversar com Antonio Palocci e tentar explicar suas decisões. O ministro da Fazenda recomendou que Rosa se sentasse com Dantas e indicou a solução: o descruzamento de ações entre o fundo e o Opportunity, indo cada um para o seu lado.

Rosa se reuniu com advogados de Dantas no fim de setembro, na sede da Previ, no Rio. O dono do Opportunity aceitou vender suas ações da Telemig renunciando ao privilégio de sócio majoritário. A venda beneficiaria a todos os sócios. Enquanto negociavam, no entanto, Rosa foi à matriz do Citibank em Nova York, cuja diretoria estava dividida. Metade apoiava Dantas. Mas Mary Lynn Putney estava contra ele. Em dezembro, Rosa comunicou que não celebraria o acordo com Dantas. Dirceu e Palocci foram a Lula e disseram que Rosa precisava sair. Gushiken o bancou.

O Citibank rompeu com o Opportunity e aliou-se à Previ. Em abril, o Opportunity perdeu o controle da Brasil Telecom. O Citibank vai terceirizar sua gestão na operadora para a Angra Partners, a mesma que assessorou Rosa na aproximação com o banco americano.

Rosa fechou o acordo sem consultar o Conselho da Previ. Questionado, brandiu parecer jurídico segundo podia fazê-lo. O presidente do BB, Rossano Maranhão, chamou Rosa e Henrique Pizzolato, então presidente do Conselho da Previ, para explicarem o acordo. Rosa fez um resumo verbal e recusou-se a mostrar documentos. Rossano avisou Palocci. Mas ele mandou deixar por isso mesmo.