Título: Corrupção tira dinheiro de pobre, diz Lula
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Nacional, p. A12

Presidente chama para junto de si funcionário famoso em 2004 por devolver uma maleta com US$ 10 mil que encontrou

Ao visitar ontem as obras de ampliação do aeroporto de Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em discurso de improviso, que a corrupção reduz a eficácia dos gastos públicos e prejudica os mais pobres. Para completar o recado, em uma visita à Infraero, chamou para junto de si o funcionário Francisco Cavalcante, que ficou famoso em 2004 por ter encontrado uma maleta com US$ 10 mil, enquanto trabalhava, e devolvido tudo à direção. "Gestos como esse engrandecem o ser humano", disse o presidente. "Com todas as denúncias que acontecem no Brasil, se nós tivéssemos 180 milhões de Franciscos, certamente o dinheiro do Brasil daria para fazer muito mais coisas para o povo pobre deste País do que se as pessoas levassem dinheiro", completou, diante de 400 funcionários da empresa.

Pouco antes, Lula tirou fotos ao lado de um enorme buraco das obras e brincou com uma das funcionárias da empresa, Elisângela Rodrigues, de 22 anos, sua eleitora, pedindo que ela levantasse o capacete para seu rosto aparecer nas fotos.

Na solenidade, Lula ouviu do presidente da Infraero, Carlos Wilson, que se despedia do cargo, um balanço das obras da empresa no País. Wilson repetiu o discurso do próprio Lula e de petistas como Delúbio Soares, de que há uma conspiração das elites contra ele. "Esta é a maior resposta que podemos dar àqueles que, por preconceito, não aceitam que um igual a vocês tenha chegado à presidência", disse Wilson, que deixa a Infraero com planos de candidatar-se a deputado em 2006.

Retomando o discurso de sindicalista e operário, recurso que tem repetido nos contatos com platéias mais humildes, Lula voltou a atacar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e comparar sua ação na área social com a dele. Nos últimos 30 meses, sustentou, o atual governo criou 12 vezes mais empregos ao mês do que o anterior. Também declarou que o dinheiro destinado à agricultura familiar cresceu quase o dobro e que foram investidos 14 vezes mais recursos para o saneamento básico, em sua gestão, do que entre 1999 e 2002.

O presidente voltou a lembrar seu passado difícil e recomendou aos trabalhadores que não deixem de estudar, a fim de exercerem uma função melhor e alcançarem um salário melhor. "A gente não pode se entregar à mesmice que nós herdamos dos nossos pais, porque muitas vezes eles não tiveram condições de nos dar, quando a gente precisava, uma melhor qualidade de vida", ensinou o presidente, recomendando que, agora, que todos já estão adultos, "nós temos que futucar o tipo de vida que nós queremos deixar para os nossos filhos, para os nossos netos".

BOLSA ATLETA

Com a presença do atleta Robson Caetano e de vários competidores em paraolimpíadas, o presidente participou, mais tarde, de outro evento - a entrega das primeiras bolsas do programa Bolsa Atleta, no Palácio do Planalto. Na reunião ele garantiu - depois de ter-se reunido com sindicalistas (no Planalto), com petroleiros (em Caxias, no Rio), com cegonheiros (no ABC) e ontem com os operários nas obras da Infraero - que as aparições em eventos populares não têm por finalidade conseguir apoio no atual momento de crise política.

Ao entregar bolsas de sustento para os atletas, o presidente afirmou que não recebe apenas vitoriosos e famosos, mas também derrotados e amadores. "Não recebemos aqui (apenas) os atletas para comemorar uma vitória nas Olimpíadas ou na Copa do Mundo. (...) Aqui recebemos aqueles que sequer se transformaram em profissionais."

Compareceram os ministros Agnelo Queiroz (Esporte) e Jaques Wagner (Relações Institucionais)e muitos seguranças, empenhados em afastar o presidente da imprensa.

Ao fazer um elogio a Agnelo, Lula brincou: "Não vou elogiar muito porque depois a gente quer tirar e não pode."