Título: Para Stédile, governo Lula 'já acabou'
Autor: Evandro Fadel Colaborou: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Nacional, p. A12

Coordenador nacional do MST afirma que 'crise é grave e será prolongada' e culpa política econômica

O coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, não escondeu o desalento com o governo Lula ao participar ontem, em Curitiba, de uma manifestação contra a política econômica. Ele disse que o governo caiu em descrédito com as denúncias de corrupção e só a retomada do movimento de massas pode tirar o País da crise e construir um novo projeto de desenvolvimento. "É claro que vai levar tempo", ponderou, opinando que vai ser difícil isso acontecer ainda no governo Lula: "Não vai dar. Esse já acabou", respondeu Stédile, dando uma gargalhada.

Na sua opinião, Lula adotou princípios de seu antecessor e o desencanto da população é óbvio. "A crise é grave e será prolongada. Tem contornos na corrupção e na política, mas a essência é que não houve mudanças na política econômica", afirmou. "A política econômica não resolveu os problemas do povo, de emprego, trabalho e renda. O governo não fez a reforma agrária e não está cumprindo com os direitos constitucionais da saúde e da moradia."

Por causa disso, na sua avaliação, o povo ficou apático, só assistindo. "Se fosse um governo que realmente tivesse feito uma política popular, o povo estaria na rua defendendo o governo", disse. Stédile ressalvou que a população também não saiu às ruas para pedir a queda de Lula porque sabe que o problema é tão grave que não depende só do presidente. "Precisa fazer mudanças estruturais, precisa mudança na política econômica, precisa uma ampla reforma política, porque os parlamentares em geral não representam a vontade do povo."

SUSTENTAÇÃO

Uma campanha contra o eventual pedido de impeachment do presidente Lula não receberá a adesão automática dos movimentos sociais, opinou ontem o secretário de movimentos sociais do PT, Jorge Almeida. O cenário mudou muito de fins de junho, quando 42 entidades divulgaram a Carta ao Povo Brasileiro, que acusava uma tentativa de "desestabilização política" do governo, até hoje.

"Os movimentos assumiram a tese do golpismo, defenderam o governo e a resposta para as demandas só piorou", explicou Almeida. Segundo ele, a lista de interesses contrariados dos movimentos sociais é extensa. "O presidente fez uma reforma ministerial à direita", disse, atacando o afastamento do ex-ministro Olívio Dutra e o "rebaixamento" da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos.

So braram farpas, também, para a política econômica, que os movimentos sociais qualificam como "nociva". Para Almeida, a mobilização dos movimentos vai crescer sim, mas no sentido de se tornar ainda mais crítica ao governo.