Título: Para empresários, o melhor agora é adiar investimentos
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

Sem fazer alarde, um grupo formado por 20 empresários pesos pesados da indústria paulista se reuniu ontem em São Paulo para avaliar os efeitos da crise política na economia. Eles concluíram que, sem clareza em relação ao que pode acontecer, o melhor a fazer nesse momento é engavetar "por um bom período" novos projetos de investimentos que já haviam sido aprovados. "Quem pôde engavetar, engavetou. Quem pôde desacelerar, desacelerou", conta Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que participou do encontro.

Também surgiu dessa reunião a avaliação de que o enfraquecimento do PT, e possivelmente do presidente Lula, poderia abrir espaço para o fortalecimento das candidaturas à eleição presidencial de 2006 que tenham bandeira populista ou acenem com uma política econômica menos ortodoxa do que a seguida até agora. Segundo um dos participantes, o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, e o atual vice-presidente da República, José Alencar, pela ordem, se encaixam nesses dois perfis.

"Não se discutiu se a linha A, B ou C é a melhor para o País, e sim que essa indefinição poderá prolongar ainda mais a paralisia dos investimentos", explica o diretor do Iedi.

Segundo ele, esse período poderá ser não apenas de mais de um ano, mas de um ano e meio. Caso o presidente Lula não consiga se reeleger ou fazer seu sucessor, os empresários acham razoável uma espera de, no mínimo, mais seis meses para a definição da nova orientação da política econômica.

A paralisação dos investimentos tem conseqüências negativas, dizem os empresários. Segundo eles, se esses projetos saíssem do papel, a economia poderia estar crescendo mais e criando mais empregos. As empresas vinham adiando boa parte de seus planos nos últimos anos por causa das incertezas em relação ao futuro da economia, provocadas principalmente pelos juros altos e, mais recentemente, a valorização do real em relação ao dólar.

"A crise política afetou especialmente os grandes projetos de construção de novas fábricas e os investimentos da indústria de base", observa Almeida.

Além de travar os investimentos, os empresários consideram remotas as possibilidades de o atual governo conseguir levar à frente projetos importantes, como a reforma tributária e a regulamentação das Parcerias Público-Privadas (PPPs). "É uma tarefa muito difícil a de reconquistar espaço político para fazer as reformas necessárias neste governo", diz o diretor do Iedi.

Na avaliação dos participantes da reunião de ontem, não está descartada a possibilidade de a crise política se aprofundar ainda mais e afetar o crescimento da economia este ano. Até agora, a expectativa é de um crescimento de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. "O detalhe é que todo mundo acha que ela está se aprofundando", observa um empresário presente ao encontro.

No entanto, o diagnóstico é de que a crise só deverá desencadear problemas mais graves à economia se as denúncias de corrupção envolverem o comando político e econômico do País, ou seja o presidente Lula e o Ministério da Fazenda.

"O ministro (da Fazenda, Antonio) Palocci tem muitas qualidades e a mais impressionante delas é saber se fingir de morto como ninguém", ironiza um empresário, referindo-se ao fato de o ministro ter ficado praticamente fora do foco do noticiário nas últimas semanas.