Título: Mercado financeiro alivia a tensão
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

Depois de dois dias de intensa volatilidade, o mercado financeiro deu uma trégua e fechou o dia mais calmo. A falta de maiores novidades no front político e o anúncio do Tesouro Nacional de que não comprará dólar no mercado à vista enquanto houver volatilidade no câmbio contribuíram para interromper a seqüência de maus resultados desde sexta-feira. Mas a melhora do humor do mercado foi gradual. No início da manhã, os investidores ainda mantinham o tom apreensivo que abalou o mercado financeiro no dia anterior. O dólar abriu em alta, a bolsa despencou e o risco país subiu. Aos poucos, no entanto, o mercado foi se recuperando.

A expectativa de que o depoimento da mulher do empresário Marcos Valério, Renilda Santiago Fernandes, pudesse trazer algum fato bombástico não se confirmou e trouxe alívio para os investidores, afirmou o economista da consultoria MCM, Homero Guizzo.

O dólar fechou o dia em queda de 0,45%, cotado a R$ 2,451, depois de seis altas consecutivas. Mas a moeda americana chegou a bater na máxima de R$ 2,503 e só inverteu a curva após a declaração do secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antonio Gragnani, de que o governo não comprará divisas enquanto o mercado continuar tenso.

No mercado acionário, o quadro não foi diferente. Na mínima do dia, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a cair para 24.327 pontos, mas fechou em terreno positivo, com alta de 1,38%, em 24.868 pontos. No ano, a Bolsa paulista acumula queda de 5,07% e no mês, de 0,73%. Em um ano, no entanto, há valorização de 16,66%.

No mercado da dívida, os títulos brasileiros negociados no exterior terminaram o dia em alta. O A-Bond, que substituiu o C-Bond, subiu 0,75%, para 100,25% do valor de face. Já o BR-40 valorizou 0,91%, para 116,25%. Com isso, o risco país, que reflete a confiança do investidor no Brasil, que subiu para 430 pontos durante o dia, terminou em queda 0,24%, em 419 pontos. No ano, o risco já subiu 11,14%.

Na avaliação do estrategista do BankBoston, Odair Abate, o mercado financeiro tem vivido a luta dos bons fundamentos contra a volatilidade e as novidades no lado político. Os dados macroeconômicos continuam fazendo a diferença e ajudando a conter um stress maior entre os investidores. Por isso, o mercado teve um dia mais tranqüilo ontem, já que não houve nenhum fato novo na área política. Mas a tendência é que a volatilidade persista.

Outro fator que contribuiu para um dia mais positivo foram os boletins de instituições estrangeiras em relação ao Brasil, afirma o economista da Gap Asset Management, Alexandre Maia. Ele cita, por exemplo, o Deutsche Bank, que afirmou em seu boletim que o mercado brasileiro oferece boas oportunidades de negócios com as últimas quedas nos preços dos ativos.

Isso porque, diz a instituição, o mercado já pôs no preço dos papéis o pior cenário, em que o presidente Lula seria atingido pelas denúncias de irregularidades. Mesmo assim, o banco afirma que acha difícil que esse cenário se confirme.

Outras instituições, como Morgan Stanley, First Boston e Bank of América, também teriam apresentado em seus boletins um tom mais positivo em relação ao Brasil, indo na contramão de outros bancos que revisaram suas recomendações para a compra de papéis do País. Na semana passada, a Merrill Lynch rebaixou a recomendação de papéis de títulos da dívida brasileira e o ABN e o HSBC diminuíram a exposição de suas carteiras em títulos do País.