Título: Tesouro suspende compra de dólares
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

O aumento do nervosismo no mercado financeiro por causa do agravamento da crise política obrigou o Tesouro Nacional a anunciar, ontem, que saiu temporariamente do mercado de câmbio. A crise também afetou o leilão de venda de títulos que o Tesouro faz todas as terças-feiras. Para vencer a desconfiança do mercado, foi preciso o governo concordar em pagar mais para o investidor ficar com os papéis. Além disso, a quantidade de títulos vendidos ficou menor. O anúncio da suspensão das compras de dólares foi feito pelo secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antônio Gragnani, e teve impacto direto no mercado financeiro. Logo depois que a notícia foi divulgada pela Agência Estado, no fim da manhã, o cotação do dólar, em alta, recuou rapidamente.

Segundo informou o secretário, o governo vai permanecer fora do mercado de câmbio enquanto durar a volatilidade. "Nossa intenção não é influenciar a taxa de câmbio." Nos últimos meses, o Tesouro já havia adiantado o cronograma de compras de dólar no mercado à vista, que prevê uma aquisição de US$ 9,5 bilhões neste ano. O Tesouro compra dólares no mercado para pagar as parcelas da dívida externa.

Como o cronograma de compras estava avançado, explicou o secretário, o Tesouro pode permanecer fora do mercado sem comprometer a sua estratégia. "Nos últimos dois meses, fomos um pouco mais arrojados nas compras do que a nossa programação inicial", justificou o secretário. Dessa forma, destacou ele, "estamos tranqüilos". "Sabemos que a nossa programação vai ser cumprida."

Na avaliação do secretário, a instabilidade do mercado é momentânea e passageira. "Houve um pequeno ajuste, nada que vá tirar a tranqüilidade do mercado." O secretário aposta que o mercado vai se estabilizar logo, porque as condições da economia brasileira são sólidas.

Gragnani discordou da avaliação de que a crise política chegou ao mercado. O temor do mercado com a gravidade da crise fez, no entanto, o Tesouro reduzir a menos da metade a oferta de títulos. Enquanto na semana passada foram ofertados 6 milhões de títulos em leilão, ontem o Tesouro pôs à venda apenas 2,25 milhões de papéis.

Além de pagar taxas mais caras, nem todos os papéis foram vendidos. Os títulos prefixados com prazo de vencimento mais longo em 2012, as NTN-F, não foram nem mesmo vendidas. Esses papéis são os preferidos dos investidores estrangeiros. As taxas de todos os títulos ofertados saíram mais "salgadas" no leilão de ontem. Segundo Gragnani, o Tesouro reduziu o lote para não provocar mais volatilidade.