Título: Valério avisa que irá à Justiça para cobrar dívida do PT
Autor: Alex Capella
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2005, Nacional, p. A6

Empresário revela que os repasses foram feitos mediante contratos firmados entre suas empresas e o partido

BELO HORIZONTE - O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza afirmou ontem que não abre mão de receber os valores que o PT deve a suas empresas e que, se necessário, irá à Justiça para cobrar esse dinheiro, que corresponde aos empréstimos que suas empresas fizeram, repassados depois ao partido. Em nota distribuída à imprensa, Valério revelou que os repasses foram feitos mediante contratos firmados entre suas empresas e o PT, e que esses contratos serviriam para comprovar as dívidas. Na nota, Valério negou que tenha feito chantagem com o PT ou o com governo federal ao cobrar com veemência o pagamento das dívidas, que foram contraídas em 2003 e 2004, e atingem um valor total de R$ 93 milhões. Segundo o publicitário, "essa história de chantagem é uma armação do PT para não pagar os empréstimos feitos legalmente ao partido". Valério afirmou categoricamente que "não não aceitará o calote do PT e cobrará a dívida judicialmente, se necessário for".

Mas, apesar de sustentar que não chantageou, o publicitário mantém a pressão sobre o PT e o governo. Na nota, afirma que "entregará à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal, no início da próxima semana, farta documentação, comprovando a regularidade da movimentação financeira de suas empresas". E informa também que "toda a documentação pedida pela Justiça está sendo encaminhada à Receita Federal e à Procuradoria-Geral da República".

Com a nota, Valério também procurou ampliar o leque dos políticos comprometidos, ao frisar que "não entende por que alguns políticos afirmam que receberam doações da Usiminas, uma vez que, na verdade, as doações foram da SMPB". Com essa menção, aparentemente inocente, ele pretendeu atingir dois políticos da oposição. O deputado Roberto Brant (PFL-MG) e o ex-vereador João Leite (PSB, apoiado pelo PSDB) - que receberam, respectivamente, R$ 102 mil e R$ 205 mil para suas campanhas a prefeito de Belo Horizonte - informaram que o dinheiro tinha sido doado pela Usiminas.

CHANTAGEM

Segundo versão publicada no fim de semana pela revista Veja, a chantagem teria sido feita há duas semanas. O empresário telefonou para o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara dos Deputados, cobrando dele que o PT o ajudasse a se livrar de um risco iminente de ser preso; e que o PT lhe viabilizasse o pagamento de R$ 200 milhões, para tranqüilizá-lo na responsabilidade sobre as dívidas.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Valério negou a conversa com João Paulo, mas brandiu uma ameaça semelhante à narrada pela revista: disse que em uma semana desembarcará em Brasília "com quilos de documentos" e que "quem tiver motivos para preocupação pode ir se preocupando". Por fim, disse que se sente "sem compromissos" com o PT.