Título: Eleição no BID começa amanhã e testa diplomacia do governo Lula
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2005, Economia, p. B7

João Sayad, candidato brasileiro e do Mercosul, enfrenta 3 adversários sul-americanos

A diplomacia do governo Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará uma dura prova amanhã, em Washington, durante processo de escolha do sucessor de Enrique Iglesias na presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O economista paulista João Sayad deverá apresentar-se não apenas como candidato do Brasil, mas do Mercosul. Entretanto, terá entre seus concorrentes três nomes da América do Sul - a região sobre a qual o mesmo governo Lula pretende manter uma posição de liderança. Para cumprir os papéis de eleitor - pelo Brasil - e de cabo eleitoral da candidatura de Sayad, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, embarcou na noite de ontem para Washington. Na capital americana, já estava o articulador dos apoios latino-americanos, o secretário de Assuntos Internacionais do Planejamento, José Carlos da Rocha Miranda. Em Brasília, o processo está sendo monitorado diretamente pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.

Ex-ministro do Planejamento do governo José Sarney e ex-secretário das Finanças da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Marta Suplicy, Sayad ocupa desde o ano passado a vice-presidência de Finanças e de Administração do BID e tem o discreto apoio de Iglesias. Ontem, ele completou sua campanha em Ottawa, no Canadá. Antes, havia visitado autoridades dos três sócios do Brasil no Mercosul, do Chile, da Bolívia, do México e dos países da América Central e do Caribe, bem como o secretário do Tesouro americano, John Snow.

A expectativa é que a eleição não seja resolvida em um só turno. O vencedor teria de obter os apoios que representem mais de 50% do capital acionário do BID. Ainda terá de angariar os votos de pelo menos 15 dos 28 países associados. Em princípio, nenhum dos candidatos teria como preencher tais requisitos. A perspectiva é que os dois mais bem votados passem por um segundo turno.

A ausência do Brasil no provável segundo turno teria um sabor mais amargo em Brasília que em Bogotá, Lima e Caracas - as capitais sul-americanas que também lançaram candidaturas -, pois tornaria mais evidente o mal-estar da região com a autoproclamada liderança brasileira.

Esse mal-estar já havia ocorrido com a derrota da candidatura do Brasil à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) e é percebido na resistência de vizinhos sul-americanos à campanha de Brasília por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

No caso da sucessão de Enrique Iglesias, que está à frente do BID desde 1988, a área econômica do governo Lula conseguiu pelo menos fechar o apoio do Mercosul, mais Chile e Bolívia.

Na disputa pelo cargo, o embaixador da Colômbia em Washington, Alberto Moreno, conta com mais capital acionário - resultado do apoio dos Estados Unidos, que detêm 30% das ações do BID. Esse suporte, entretanto, pode ser mais negativo que positivo para Moreno. Outro candidato forte, o ministro das Finanças do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, pediu à Casa Branca que se abstenha de votar no primeiro turno e pode ser atendido, o que tornaria o jogo mais equilibrado.

Kuczynski teria, em princípio, os apoios do México e do Canadá. Na lanterninha, o presidente do Banco Central da Nicarágua, Mário Alonso, e o ex-ministro da Fazenda da Venezuela José Alejandro Rojas tiram os votos centro-americanos e caribenhos de Moreno.