Título: Mulher de Valério diz na CPI que Dirceu sabia de empréstimos
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A4

Em depoimento ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, Renilda Santiago, mulher do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, tornou ainda pior a situação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Ela afirmou que Dirceu sabia dos empréstimos feitos ao PT por meio das empresas do marido. Sócia das agências SMPB e DNA, responsáveis pelos empréstimos ao PT, Renilda contou que o petista chegou a ir a Belo Horizonte, no fim de 2004, para se reunir com dirigentes do Banco Rural e discutir a dívida do partido. De acordo com ela, o ex-ministro Dirceu encontrou-se também no ano passado, em Brasília, com diretores do BMG para tentar renegociar empréstimo tomado por Marcos Valério em benefício do PT. "A única coisa que o Marcos Valério me falou é que o José Dirceu sabia dos empréstimos e teve até reunião em Belo Horizonte para resolver sobre os financiamentos feitos pelo Banco Rural", afirmou.

O encontro do ex-ministro com a diretoria do Banco Rural em Belo Horizonte, segundo a mulher de Valério, ocorreu no Hotel Ouro Minas e não contou com a participação de seu marido. Renilda garantiu ainda que Valério também não esteve na reunião de Dirceu com a diretoria do BMG em Brasília.

Ela assegurou aos parlamentares que soube dos encontros do ex-ministro com representantes dos dois bancos só no mês passado, quando perguntou ao marido como seriam pagos os empréstimos feitos por suas empresas ao PT. A versão confirma o que disse Valério em depoimento na Procuradoria-Geral da República. "José Dirceu sempre disse que nada fazia sem o conhecimento do presidente Lula. Então estamos nos aproximando do presidente Lula", afirmou o senador César Borges (PFL-BA).

Mesmo alegando não ter conhecimento das atividades das empresas do marido, Renilda procurou mostrar que Valério não realizou sozinho as operações financeiras irregulares. Todos os cheques emitidos pelas agências de publicidade precisavam ser assinados por pelo menos dois sócios. "A responsabilidade não é única do Marcos Valério, uma vez que nenhum cheque era assinado somente por ele", argumentou. "Saber alguma coisa, acho que todos (os sócios) deveriam saber."

Valério foi "ingênuo", segundo a mulher, e não soube lidar com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, pois deveria ter negado os pedidos de empréstimo para o partido. Dizendo-se dona de casa e sem interesse por política, afirmou que os recursos repassados pelo marido para o PT não eram para pagar o mensalão a parlamentares, conforme denunciou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). "O Marcos Valério não fez nada de ilícito."

No depoimento, Renilda alegou que seu marido não contou tudo o que sabia quando esteve na CPI, no dia 6, porque esperava que "outras pessoas ligadas aos problemas assumissem seus atos". E tentou explicar: "O Marcos Valério esperava que falassem antes de ele acusar."

Ela garantiu que seu marido nunca avalizou empréstimos de nenhum outro partido que não o PT e avaliou que Valério não se sente traído por Delúbio: "Mas acredito que teve um excesso de confiança de Marcos Valério no Delúbio e no PT."