Título: Governo está errando muito, diz Sarney
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2005, Nacional, p. A4

Senador confidencia a interlocutores que está preocupado com o desfecho da crise

BRASÍLIA - Até o maior fiador do governo Lula no Congresso está pessimista com o desfecho da crise política. O senador José Sarney (PMDB-AP) confidenciou a pelo menos dois interlocutores estar muito preocupado com o mau desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da gravidade da situação. Segundo os interlocutores, o senador avalia que Lula está errando muito e que, se nada for feito, dificilmente ele termina este ano presidente. Outro acabrunhado com o quadro político é o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Os dois se falaram pelo telefone na terça-feira e na noite de quinta-feira. Eles tiveram encontro reservado no gabinete presidencial para tratar de conjuntura mas, segundo importante dirigente do PMDB, não houve acerto no que se refere à administração da crise no Congresso. Renan voltou com o discurso de que a crise preocupa, mas seu papel é o de garantir a independência das CPIs que apuram denúncias de corrupção e o de preservar a imagem do Congresso.

A análise que prevalece na cúpula do PMDB e em partidos da base aliada é de que Lula está ¿desorientado¿ diante da crise.

O pior, na avaliação de Sarney e Renan, é que hoje não há espaço para se conversar com Lula sobre as saídas possíveis para vencer a turbulência política. Ambos avaliam que é cedo para pensar em saída, quando ninguém sabe até onde a crise pode ir nem quem e quantos serão arrastados por ela.

Além disso, o presidente não esconde a apreensão com seus companheiros na CPI dos Correios. Em conversas reservadas, Lula tem feito reparos à atuação do presidente da comissão, o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Ele avalia que o petista se tem comportado mais como relator que presidente da CPI, de quem se espera uma postura de magistrado. A queixa de Lula é que Delcídio tem opinado sobre tudo, inclusive em entrevistas ao vivo às emissoras de rádio e televisão, em que chegou a declarar que, a seu ver, o mensalão negado pelo governo existia e era pago. O pessimismo dos aliados de Lula com o desfecho da crise aumentou por conta de seu mau desempenho na reforma ministerial. A cúpula governista do PMDB acredita que o presidente demonstrou não ter voz de comando sobre o PT, nem quando o partido está enfraquecido pelas denúncias de corrupção.