Título: Juíza vê lavagem pelos Correios
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A6

"Isso cheira a lavagem de dinheiro", declarou ontem Solange Salgado da Silva Ramos de Vasconcelos ao confirmar o que a CPI dos Correios descobriu e o Estado antecipou ontem - que o dinheiro depositado na conta da Associação dos Juízes Federais da 1.ª Região (Ajufer), sediada em Brasília, saiu do caixa da SMPB Comunicação, agência de Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto condutor do mensalão. Juíza federal há 13 anos, Solange - que foi promotora de Justiça, defensora pública e juíza estadual - preside a entidade desde dezembro de 2002. Está no segundo mandato e seu pior dia no cargo foi ontem, como ela definiu. Angustiada e tensa, passou horas em busca de dados para reforçar sua versão acerca da "lisura dos negócios da Ajufer". Cobrou da direção dos Correios explicação para o fato de a SMPB bancar evento dos juízes. A associação havia pleiteado nos Correios patrocínio para evento na Costa do Sauípe (BA). A estatal comunicou que o pedido havia sido acolhido, sem avisar que o dinheiro era de Valério.

A associação da toga caiu no pente-fino da CPI por R$ 70 mil que a empresa de Valério creditou na conta 25137-9, da Ajufer, na Caixa Econômica Federal, em março de 2004. "Estou chocada com essa descoberta", declarou Solange. "Não posso aceitar uma coisa dessas porque agora já querem incluir o Judiciário nessa malha de corrupção", insistiu. "Pedimos um patrocínio legal e legítimo aos Correios porque partimos do pressuposto de que empresas públicas são idôneas."

Solange disse que vai à CPI dos Correios espontaneamente para explicar o dinheiro que Valério depositou. No fim da tarde, a diretora jurídica dos Correios, Maria de Fátima Moraes Celene, enviou à Ajufer cópias - incompletas - dos procedimentos de dois contratos de patrocínio entre a entidade e a estatal. O primeiro, de R$ 50 mil, em abril de 2003 foi para cobrir despesas dos magistrados em encontro em Macapá.

Esse valor foi depositado pelos Correios, sem participação de Valério. Na época, não estava em vigor decreto do presidente Lula e do então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação, que confere às agências de publicidade plenos poderes para bancar inclusive patrocínios de estatais.