Título: Fitas mostram plano para queimar faturas da DNA
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A6

Gravações telefônicas realizadas com autorização judicial são apontadas por integrantes da CPI dos Correios como suficientes para pedir a prisão preventiva do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. A senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) entregou ontem ao relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), transcrição das conversas, que levaram a polícia mineira ao local onde tinham sido queimados documentos da DNA Propaganda - uma das agências de Valério. Os termos da gravação deixam clara a montagem de uma operação para destruir provas capazes de comprometer o empresário no transcorrer das investigações. "O artigo 312 do Código Penal prevê a medida se ficar comprovado, como é o caso, que o investigado está destruindo documentos", lembrou Heloísa. Para ela, porém, a hipótese de pedir a prisão de Valério deve ser avaliada com cautela, pois pode transformar o empresário no único foco do escândalo que também envolve petistas até há pouco instalados em posições de comando no partido e no governo. "O certo é que se não fosse essa gravação os documentos teriam sido queimados antes da chegada dos policiais e de membros do Ministério Público." Há 12 dias, ela integrou o grupo destacado pela CPI para ir a Belo Horizonte acompanhar o "resgate" dos papéis.

O grampo mostra que tudo foi cuidadosamente preparado. Numa das conversas, o policial civil aposentado Marco Túlio Prata, o Pratinha, pergunta a seu irmão, o contador Marco Aurélio Prata, que trabalhava para Valério: "Cadê sua mulher? Tá onde?". O contador responde: "Tá trabalhando naquele lugar em que ela trabalha." Pratinha, então, propõe: "Você podia mandar ela lá naquele local em que ela não trabalha, pra fazer a limpeza que precisa ser feita". O irmão indaga: "E põe onde?" O policial diz: "Eu não sei, onde você quiser. O importante é você não pôr a cara."

Em outra gravação, Pratinha refere-se ao fato de que restos dos documentos já tinham sido encontrados: "A Polícia Federal não é boba, não. Já, já tá tudo na mão numa hora dessa." Além de Pratinha e seu irmão, a interceptação flagrou outras 6 pessoas da família envolvidas na operação para eliminar os documentos. A interceptação foi realizada originalmente com o objetivo de checar as evidências de que os Prata mantinham um esconderijo de armas - fato que acabou confirmado, levando à prisão do policial aposentado.