Título: DNA recebeu R$ 66 milhões do Opportunity
Autor: Sérgio Gobetti e Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A7

Dados preliminares da quebra de sigilo bancário de uma agência do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza mostram que as três empresas de telefonia controladas pelo Banco Opportunity, de Daniel Dantas, injetaram na DNA pelo menos R$ 65,9 milhões nos últimos três anos. É o equivalente a 29% dos créditos que a DNA recebeu em sua conta no Banco do Brasil, por onde também entravam pagamentos de clientes como Eletronorte, Ministério do Trabalho e governo de Minas. A CPI dos Correios começa a investigar se a agência prestou mesmo serviços ao Opportunity ou se serviu de intermediária entre o setor privado e o esquema do mensalão. "A CPI tem de pegar não só os corruptos, como também os corruptores", dizia ontem o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).

Foram depositados no BB R$ 35,3 milhões da Telemig, R$ 29,7 milhões da Amazônia Celular e R$ 823 mil da Brasil Telecom. Controlam as três um pool integrado por Oportunity, Citigroup e fundos de pensão de estatais. A Brasil Telecom, segundo a CPI, não é cliente da DNA. A CPI já detectou outras transferências: R$ 44,2 milhões da Visanet, R$ 6,5 milhões da Servinet, R$ 4,8 milhões da Fiat e R$ 4,7 milhões da TV Globo. Entre depósitos de menor valor, constam os de empreiteiras, como a Odebrecht - R$ 371 mil.

"A gente precisa analisar cada contrato do Valério, checar os serviços efetivamente prestados e confrontar valores recebidos com notas fiscais", disse o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). "Tem de ver se os pagamentos são compatíveis", acrescentou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

Segundo o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), a CPI pedirá ao Tribunal de Contas da União que analise os contratos das agências. Os técnicos da CPI já começaram a cruzar dados de movimentação bancária com notas fiscais apreendidas nas empresas. Num primeiro exame, os parlamentares estranharam o aumento dos valores que as agências registraram como gastos de mídia (espaço em TV, rádio e jornal) nos contratos com estatais. Pularam de R$ 6 milhões em 2003 para R$ 24 milhões em 2004.

A Odebrecht informou em nota que seu "relacionamento com a DNA começou em agosto de 2002", quando a contratou para fazer o marketing do lançamento de um empreendimento em Minas. "Trata-se de contrato firmado entre duas empresas privadas, totalmente de acordo com a legislação e sem uso de recursos públicos", afirmou, explicando que o contrato foi rescindido em 15 de julho. "A escolha da DNA foi decidida em 2001, após meticulosa pesquisa pela Odebrecht, que inicialmente fez contato com 8 agências de Minas."