Título: PF investiga conexão entre publicitário e doleiro
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Nacional, p. A4

Haroldo Bicalho teria tido contatos freqüentes com Valério; empresa RS, ligada ao Banco Rural, é um dos alvos da polícia A Polícia Federal intensificou investigações sobre eventuais conexões entre o doleiro Haroldo Bicalho e Silva e o empresário Marcos Valério. Um dos alvos da investigação é a empresa RS Empreendimentos e Participações Ltda., que tem como sócio majoritário a Rural Seguradora S.A., presidida por Kátia Rabello, também presidente do Banco Rural. O doleiro foi preso provisoriamente em agosto de 2004 na Operação Farol da Colina, da PF, deflagrada com o objetivo de combater sonegação fiscal, lavagem e formação de quadrilha. Bicalho foi citado pela ex-secretária da SMPB Comunicação Fernanda Karina Somaggio como um doleiro de Belo Horizonte com o qual Valério manteve contato. O policial civil David Rodrigues Alves, que sacou R$ 4,9 milhões das contas da SMPB, disse que foi apresentado ao sócio da SMPB, Cristiano de Mello Paz, por Bicalho.

De acordo com certidão da Junta Comercial de Minas, o doleiro foi admitido como sócio quotista da RS em junho de 2001 e deixou a sociedade em 28 de dezembro do ano passado. Além da Rural Seguradora (51%), os outros sócios são a Seculus da Amazonia S.A. Jóias e Relógios (39,2%) e a BTS Participações e Empreendimentos S.A. (9,8%). O capital social declarado é de R$ 8,1 milhões e como sede oficial consta um endereço na pequena cidade de Alfredo Vasconcelos, a 160 quilômetros de Belo Horizonte. Segundo a certidão, a RS presta serviços na área de informática e de assessoria comercial a pessoas físicas ou jurídicas nacionais e/ou estrangeiras.

Ainda conforme o documento, o administrador nomeado da RS é José Roberto Salgado, vice-presidente do Rural, que responde a processo por gestão fraudulenta e formação de quadrilha. No dia 13 o juiz da 4.ª Vara Federal de Belo Horizonte, Jorge Gustavo de Macedo Costa, acatou a denúncia do Ministério Público Federal e instaurou ação penal contra Salgado e outros 4 executivos do banco, além de um ex-diretor.

De acordo com o MPF, entre abril de 1996 e janeiro de 2000, o Rural enviou US$ 4,8 bilhões para o exterior por meio de contas CC-5 - pelo menos US$ 192 milhões foram enviados através de laranjas. Estes recursos teriam origem ilícita, segundo a PF. "Estamos apurando se pode existir uma possível ligação entre o Haroldo e o Marcos Valério", disse ontem o delegado Ricardo Amaro, da Superintendência da PF. O doleiro cumpriu prisão temporária sob a acusação de remessa ilegal de divisa ao exterior e sonegação fiscal. Segundo a PF, a casa de câmbio de Bicalho não era autorizada pelo Banco Central. Ontem, não foi encontrado.

A RS informou que Kátia não tem participação na empresa e que Salgado assumiu a diretoria-administrativa em dezembro de 2004. Segundo a RS, Bicalho foi "sócio capitalista minoritário". A SMPB informou anteriormente que Paz nunca esteve com David Alves, mas conhece Bicalho. Valério negou, na CPI dos Correios, ter relacionamento com doleiros.