Título: Valério declara guerra aos sócios de suas agências
Autor: Angélica Santa Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Nacional, p. A5

Publicitário divulga nota dizendo que os cheques para doações de campanha eram assinados por todos

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza está em pé de guerra com seus sócios. O último lance de uma batalha de acusações privadas que dura semanas veio a público ontem, com a divulgação de uma nota oficial na qual Valério procura deixar claro que não esteve sozinho à frente dos atos das empresas. "Em cada cheque emitido pelas agências devem constar as assinaturas de, pelo menos, dois sócios. As empresas funcionam através da responsabilidade solidária e, portanto, eventuais questionamentos também devem ser feitos aos demais sócios." Ele tem ficado irritado com afirmações de seus sócios de que não sabiam da atuação das agências na distribuição de dinheiro para políticos. A nota foi emitida em resposta à declaração feita pela SMPB de que fez doações "não oficiais" para partidos e políticos apenas a partir da entrada de Valério na sociedade, em 1996. A agência argumentou que as operações de caixa 2 foram conduzidas por ele.

Valério vinha tendo atritos com um dos sócios majoritários da SMPB, Cristiano Mello Paz, desde que estouraram as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Em duas ocasiões, bateram boca. Uma delas aconteceu um dia antes do depoimento de Valério na CPI, quando ameaçou falar sobre as relações históricas entre as agências e políticos mineiros, entre eles tucanos.

A outra rusga aconteceu quando o policial civil David Rodrigues Alves - o segundo maior sacador das contas da SMPB no Banco Rural, com uma retirada de R$ 4,9 milhões - afirmou que conhecia Paz. De temperamento ameno, acostumado a recorrer à Bíblia nos momentos difíceis desde que virou evangélico, ele atribuiu a afirmação a uma manobra de Valério para colocar seu nome em evidência. Foi encontrar o sócio no escritório de seu advogado, Rogério Tolentino, e disse chorando: "Olha o que você está fazendo com a minha empresa!" Os sócios também atribuíram as referências feitas a eles durante o depoimento de Renilda de Souza à CPI dos Correios como um recado de que Valério não estaria disposto a morrer sozinho.

A relação de Valério com os outros donos de suas agências nunca foi de amizade. O empresário entrou na SMPB e na DNA salvando os negócios da falência. Na SMPB, costumava desautorizar os sócios Cristiano Paz e Ramon Cardoso em decisões financeiras. Vez por outra, se referia a Paz - que é amigo do governador Aécio Neves (PSDB) e irmão do colecionador Bernardo Paz - como "o riquinho".