Título: Sayad tem só 11 votos e Moreno vai presidir BID
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Economia & Negócios, p. B9

Apoio dos EUA foi decisivo para a vitória do candidato colombiano; atuação do Itamaraty é criticada

O embaixador da Colômbia nos Estados Unidos, Luiz Alberto Moreno, foi eleito ontem presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Ex-jornalista de 52 anos, Moreno foi executivo de empresas financeiras e ministro do Desenvolvimento antes de tornar-se conhecido em Washington pelo empenho que mostrou para garantir o apoio do Congresso americano ao Plano Colômbia de combate ao narcotráfico. Com o apoio dos EUA, que controlam 30% do capital do BID, Moreno obteve o voto de 26 dos 47 países membros, ou 56% do capital, e de 20 das 28 nações do hemisférico. O candidato do Brasil, João Sayad, recebeu o apoio de só 11 países, ou 33,6 % do capital, incluindo 6 da região (Argentina, Chile, Bolívia, Venezuela, Suriname e Haiti). Nove membros não regionais do BID, entre eles Japão e Alemanha, abstiveram-se.

Os candidatos da Nicarágua e da Venezuela retiraram seus nomes antes da votação. O ministro das finanças do Peru, Pedro Pablo Kucynski manteve a candidatura e recebeu só o seu próprio voto.

Segundo fiasco internacional do governo Lula desde a derrota da candidatura brasileira à direção da Organização Mundial de Comércio, em maio, o embaraçoso desfecho estava configurado dias antes da votação, quando dois membros do Mercosul (Uruguai e Paraguai) indicaram que não apoiariam Sayad e o México e o Canadá, que tinham reservas sobre Moreno, deram sinais de que votariam nele, por questão política.

Dias atrás representantes da Colômbia enviaram mensagens ao governo brasileiro, por intermediários, propondo um acordo, pelo qual o Brasil retiraria sua candidatura e apoiaria Moreno, em troca de garantia de cargos importantes no banco. Segundo uma fonte, a iniciativa foi rechaçada "porque o governo estava certo de que ganharia". Essa certeza baseava-se, em parte, na ilusão de que a Venezuela do presidente Hugo Chávez traria vários votos no Caribe. Não trouxe nenhum.

Moreno sucederá Enrique Iglesias na presidência do BID a partir de 1.º outubro. Pouco depois de ser eleito, ele fez um discurso à assembléia de governadores, no qual homenageou seus concorrentes, dizendo que "todos são merecedores de ser presidente".

Sayad, que acompanhou a votação sentando num banco diante da sede do BID, foi seco em sua reação: "Espero que o ganhador faça um bom serviço para o BID", disse ao Estado. Ele informou que retomará nos próximos dias ao posto de vice-presidente do BID, a qual chegou no ano passado. Ele havia se licenciado para disputar a presidência. Sayad entrará imediatamente de férias e disse que ainda não decidiu se permanecerá na posição. Mas é improvável que continue.

Segundo fontes brasileiras, a eleição do colombiano foi recebida sem entusiasmo e com consternação pela assembléia de governadores. Uma dessas fontes disse que o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, disse segunda-feira, ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que considerava Kucynski e Sayad os dois mais preparados para presidir o BID, mas estava sob instruções da Casa Branca para votar em Moreno.

Entre fontes brasileiras, ouviram-se recriminações à atuação do Itamaraty, que não teria apoiado Sayad com o empenho necessário. "Trabalharam contra, mandaram um emissário de segundo escalão para falar com os japoneses e jogaram a toalha antes do tempo", disse uma delas.