Título: MP suspeita que Valério lava dinheiro desde 1998
Autor: Mariangela Galucci e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Nacional, p. A6

Procurador-geral já alertou o STF sobre operações de empresa do publicitário no exterior; ele sugeriu, ainda, diligências para identificar origem e destino do dinheiro O Ministério Público Federal suspeita que uma das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza realiza operações no exterior desde 1998 com indícios de lavagem de dinheiro. Essa suspeita foi informada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que pediu instauração do inquérito para apurar as movimentações bancárias do suposto operador do mensalão. O inquérito foi instaurado terça-feira pelo presidente do STF, ministro Nelson Jobim. No pedido de inquérito, o procurador-geral sugeriu uma série de diligências, deferidas por Jobim, com o objetivo de determinar a origem do dinheiro movimentado nas contas e o destino dos recursos. Outra linha de investigação envolve supostas movimentações financeiras da DNA e da SMPB, de Valério, na subconta Lonton, mantida na conta Beacon Hill, no J.P. Morgan Chase de Nova York.

O processo da subconta Lonton foi enviado no ano passado à 4.ª Vara Criminal Federal de Belo Horizonte, base de ação dos doleiros supostamente ligados às empresas de Valério. As agências SMPB e DNA estão na lista da subconta Lonton. O juiz federal Sérgio Fernando Moro, especialista em processos sobre lavagem de capitais e remessa de divisas, anotou que "as investigações vêm revelando a existência no Brasil de um verdadeiro sistema financeiro paralelo ao oficial". Moro conduz o processo do esquema Banestado, evasão de US$ 30 bilhões. Parte desse montante foi parar na subconta Lonton.

Entre os doleiros suspeitos de movimentarem recursos de Valério estão Rodolfo Diego Imbriani Atanásio, Haroldo Bicalho e Silva e Paulo Roberto Grapiúna Lima. O juiz Sérgio Moro decretou a prisão dos doleiros em 2004.

Ontem, a Receita entregou à Justiça Federal em Curitiba um relatório com identificação de 657 depositantes em contas correntes supostamente controladas pelo doleiro Alberto Youssef, condenado por crimes fiscais e financeiros no esquema Banestado. Youssef também operou a subconta Lonton, que abrigou recursos enviados por Valério.

Os depósitos abrangem o período de 1996 a 1999 e totalizam R$ 383,40 milhões. Os depositantes são pessoas físicas e jurídicas domiciliadas no Brasil. Como as contas eram utilizadas para operações ilegais de câmbio, com a sua ocultação das autoridades fiscais e monetárias, o juiz Sérgio Moro ordenou a instauração de inquéritos a fim apurar possíveis crimes de evasão fraudulenta de divisas, crimes fiscais e de lavagem de dinheiro.