Título: 'Corrupção não é iogurte, não perde validade'
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A8

Causou bate-boca a notícia de que em 1998 empresas de Marcos Valério ajudaram de forma irregular a campanha à reeleição do então governador de Minas, o tucano Eduardo Azeredo. "Não acho que irregularidade tem data de validade. Corrupção não é pote de iogurte. O que foi feito anteriormente tem de ser investigado com o mesmo rigor", atacou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Os tucanos reagiram por seu líder no Senado, Arthur Virgílio (AM): "O PT precisa de companhia para tentar se salvar desse lamaçal em que afunda o governo Lula." "O PT fez acordo com Marcos Valério, mas este já tinha feito triangulação parecida em 1998 com a coligação que apoiava Azeredo. Esse padrão de financiamento obscuro e irregular de campanhas políticas já tinha ocorrido desde aquela ocasião", afirmou Mercadante.

Ele explicou que seu objetivo é fazer PSDB e PFL recuarem da idéia de envolver o presidente Lula. "Desde a publicação da pesquisa CNT-Sensus, na qual Lula mantinha alta popularidade, o comportamento de alguns membros de oposição é no sentido de, sob qualquer forma, tentar envolver o presidente em episódios em que ele, evidentemente, não tem responsabilidade e não tem conhecimento."

Virgílio rebateu que os parlamentares do PT não disfarçaram a satisfação com a reportagem do Globo: "Estão alegres, e esse é o detalhe." Ele propôs que todas as denúncias sobre financiamento irregular de campanhas sejam investigadas. E insistiu em que há outros casos que também precisam ser esclarecidos, como o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002, por causa da suspeita de envolvimento de um grupo de petistas na morte.

Depois, em São Paulo, Virgílio tentou amenizar a denúncia. "Temos de apurar a fundo, mas, mesmo se houver alguma irregularidade, será, no máximo, a formação de caixa 2, nada além disso", disse após entrevista no Programa do Jô, da TV Globo. "Não se tentou, em Minas, como o PT fez nacionalmente, uma maneira de perpetuar o partido no poder nem tampouco se pagou deputados."

Virgílio afirmou que "ninguém duvida da idoneidade" de Azeredo e não há provas de que ele recebeu pessoalmente dinheiro de Valério . "A questão, em 1998, se restringiu a uma seccional do partido, a de Minas, num episódio que de maneira alguma teve a ver com corrupção. Temos de investigar, mas com cautela. A denúncia também não foi muito clara."

Para o senador, a prática de caixa 2 é um problema estrutural brasileiro. "É crime sim, mas que prescreve rapidamente. Temos de combater atos assim promovendo a reforma política", disse. "De qualquer forma, não podemos confundir o que teria havido em Minas com o que o PT fez para se firmar no poder. Uma coisa não tem relação alguma com a outra", insistiu. "Eles (PT) fizeram de tudo para pegar Aécio (Neves, governador de Minas), mas não conseguiram e aí vieram com essa história em cima do Azeredo. Estão querendo passar a idéia de que na política é tudo igual, que todos fazem esquemas como eles fizeram, mas não vão conseguir."