Título: Juros derrubam produção industrial
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

Altas da Selic iniciadas em setembro fazem efeito e demanda da indústria de transformação neste mês é a menor em 2 anos

O desaquecimento da indústria de transformação, em julho, é o maior dos últimos dois anos, influenciado pela escalada dos juros a partir de setembro e que só surtiu efeito agora. Os dados estão numa pesquisa da Fundação Getúlio Vargas com 930 empresas de todo o País, com faturamento conjunto de R$ 430 bilhões em 2004. Para a FGV, porém, há chances de o ritmo de expansão industrial mostrar fôlego até o final do ano, caso os juros comecem a ceder, mas as exportações deverão recuar. A boa notícia fica para os preços, que devem cair no atacado. Pela Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgada ontem, 27% dos empresários responderam que a demanda atual é fraca, só perdendo para os 42% de julho de 2003, quando a taxa básica de juros (Selic, de 19,75% ao ano) estava em 24,5%. Já 14% responderam que a demanda está forte, ante 8% há exatos dois anos. Com as vendas em queda, a parcela de indústrias que estão com estoques excessivos foi de 6% em julho de 2004 para 14%.

"No mercado interno, a política monetária é o principal fator a justificar essa desaceleração da indústria", diz o coordenador da pesquisa, Aloísio Campelo. Ele avalia que a desvalorização do dólar vai produzir outro efeito negativo. "Pelo lado externo, a valorização do câmbio começa a surtir efeito na avaliação das empresas sobre a demanda externa. Aparentemente, nos próximos meses as vendas externas começarão a arrefecer ou até vão se estabilizar."

A desaceleração da indústria, porém, poderá significar queda de preços no atacado. Segundo a pesquisa da FGV, a parcela de empresários que pretende aumentar os preços no próximo trimestre caiu de 43%, em abril, para 27% em julho. A fatia dos que prevêem redução, por sua vez, mais que triplicou, ao passar de 6% para 19% no mesmo período.

"O lado bom do desaquecimento é que pelo lado dos preços no atacado tem havido uma forte descompressão nos bens intermediários e de capital. Poucas empresas estão dizendo que vão aumentar e muitas afirmam que vão reduzir preços", diz Campelo.

As expectativas quanto a geração de emprego recuaram. De julho a setembro, 24% das empresas pretendem contratar e 15% reduzir mão-de-obra.

Na avaliação sobre a situação atual dos negócios, 29% dos entrevistados responderam que o panorama é fraco. A maior taxa havia sido apurada só em julho de 2003, quando 50% dos entrevistados tinham a mesma percepção negativa. Entre os otimistas, 16% disseram que o cenário é bom, ante 33% de julho do ano passado.

De acordo com o economista da Tendências Guilherme Maia, "nos próximos seis meses, a crise política não vai afetar tanto. Há outras variáveis que poderiam comprometer o crescimento. A queda dos juros e a inflação mais baixa podem melhorar o investimento".

Segundo Campelo, "eventuais estímulos fiscais e monetários que ainda devem se realizar até o final do ano vão fazer com que a indústria cresça um pouco mais rápido".