Título: Argentina e México se aliam contra Brasil no Conselho de Segurança
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A12

Os governos da Argentina e do México mostraram-se firmemente contrários à candidatura brasileira para ocupar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Na capital mexicana, o chanceler argentino Rafael Bielsa, ao lado do colega mexicano Luis Derbez, declarou que as aspirações brasileiras consistem em um "apadrinhamento" na região que "não pode ser aceito". O indesejável "padrinho"- para o governo do presidente Néstor Kirchner - seria o Brasil.

"É preciso diferenciar entre um representante adequado dos interesses da América Latina e um representante que exclua a região. Se a discussão é essa, é um ponto de partida ruim. Não pode existir um representante que exclua a região. As lideranças são obtidas por consenso, elas não são exigidas. Isso implicaria em um apadrinhamento que não podemos aceitar", disparou Bielsa, que durante sua visita à capital mexicana fez questão de ressaltar os vínculos estratégicos da Argentina com o México.

Informações extra-oficiais indicam que Derbez teria sido enfático nas conversas privadas afirmando que seu país e a Argentina rejeitam o poder de veto (do restrito grupo de países com cadeiras permanentes no CS). Com ironia, Derbez teria criticado a "formação de um grupo paroquial permanente".

Recentemente, o ex-ministro da Defesa José Viegas esteve em Buenos Aires para tentar convencer o governo Kirchner a aceitar a candidatura brasileira ao CS da ONU. As tentativas de "sedução" à administração Kirchner fracassaram estrepitosamente.

Desde o início do ano, Bielsa desatou uma furiosa campanha contra a candidatura brasileira, afirmando que "o precário equilíbrio na área não se consolida com o Brasil de forma permanente no CS".

A proposta argentina é a designação de um representante "rotativo" da América do Sul para a cadeira do CS. Com determinada periodicidade, diversos países da região teriam a possibilidade de ocupar alternadamente o posto, colocando-os em posição de igualdade perante os integrantes permanentes do Conselho, denominados os Cinco Grandes: EUA, Rússia, Grã-Bretanha, França e China.

CANDIDATO DURÃO

O chanceler Bielsa está em plena campanha eleitoral, como o candidato escolhido por Kirchner para ser a cabeça da lista dos deputados de seu partido, o Frente pela Vitória, por Buenos Aires. Ali está o eleitorado mais desconfiado de El Pingüino, como é conhecido o presidente.

Diversos analistas afirmam que Bielsa está imprimindo um tom cada vez mais durão para chamar a atenção do eleitorado. Nos últimos meses disparou duras críticas contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, indicando que o Brasil não podia aspirar a ter uma presença "hegemônica" na região.