Título: Ação drástica busca neutralizar suicida
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Internacional, p. A14

Atirar para matar. Apontar para a cabeça e disparar vários tiros. O ideal é que o alvo seja atingido no olho: dessa forma o projétil vai destruir o ramo nervoso que atua sobre os movimentos, causando paralisia imediata e impedindo que um eventual detonador seja acionado pelo último impulso neurológico. A linha de regras de ação dos grupos antiterror é cruel, está sujeita a falhas de avaliação, "mas é um recurso operacional adotado para ser um novo padrão tático que vai durar muito tempo", segundo o analista independente de assuntos militares Andrew Saunders.

O pesquisador Saunders, ele próprio um ex-integrante das forças especiais do Exército dos EUA, sustenta que "até o advento dos terroristas suicidas, há 10 anos, e mesmo por algum tempo após essa época, o esforço das unidades de combate ao terror estava concentrado em deixar claro ao praticante de um atentado que ele não escaparia com vida". Para ele, os homens-bomba fizeram esse argumento perder a força: "viver ou morrer conta pouco para extremistas". Por essa razão, pondera, "agentes de todo o mundo são treinados para neutralizar uma ameaça antes que o ataque se realize". Ele acredita que "da mesma forma como o radicalismo não dá sinais de ceder, as ações violentas do esquema internacional de repressão devem durar por muito tempo".

Os primeiros a desenvolver o protocolo foram os pára-quedistas israelenses, há 30 anos. O procedimento foi utilizado no resgate dos reféns do aeroporto de Entebe, em Uganda.

Esquadrões do serviço secreto americano que cuidam da segurança pessoal do presidente e das autoridades que integram a linha de sucessão incorporaram o tiro letal em 1981.

O treinamento dos grupos antiterror é sempre muito semelhante. No caso das equipes urbanas, destinadas a intervir em cidades e em meio a civis, exige-se instrução militar especializada. Grandes e ágeis, peritos em artes marciais, devem ser também exímios atiradores. A arma padrão é a pistola austríaca Glock/17 - o mesmo modelo usado na desastrada operação que terminou com a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, em Londres.

A munição 9 milímetros da Glock é de alto impacto. A pistola, com o carregador de 17 tiros e mira laser, pesa apenas 905 gramas. Um agente antiterror é considerado apto quando atinge a marca de 96 tiros mortais em 100 tentativas consecutivas.