Título: Corpo de Jean será embarcado hoje
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Internacional, p. A14

O corpo do brasileiro Jean Charles de Menezes, de 27 anos, morto por agentes da Scotland Yard em Londres na sexta-feira, foi liberado ontem à tarde pelas autoridades britânicas. O corpo seguirá no vôo 8757 da Varig, que sai do aeroporto de Heathrow, às 22 horas de hoje, e deve chegar ao Brasil por volta das 5 horas de amanhã. Do aeroporto de Guarulhos, ele será levado para Belo Horizonte. As despesas com o traslado serão pagas pelo governo britânico. Até a noite de ontem, ainda não estava definido como o corpo seria levado para Governador Valadares, em Minas Gerais, cidade próxima de Gonzaga, município onde moram os pais de Jean. A liberação foi agilizada a pedido de familiares que, após receberem o atestado de óbito, desistiram de solicitar uma segunda autópsia, como haviam cogitado antes.

O cônsul-geral do Brasil, Fernando Mello Barreto, disse que a liberação do corpo do brasileiro era prioritária. O irmão de Jean, Giovani, pediu ao chanceler que o corpo seguisse para o Brasil com urgência.

Barreto disse que a liberação foi rápida levando-se em consideração os prazos legais na Grã-Bretanha. A decisão da família de Jean de não solicitar uma segunda autópsia e a pressão do governo brasileiro ajudaram a agilizar o processo. O transporte do corpo será acompanhado por um diplomata brasileiro e pelos primos da vítima, Alex Alves Ribeiro, Vivian Menezes e Patrícia Armani.

As circunstâncias do crime ainda são desconhecidas e continuam circulando especulações contraditórias. Ao certo, sabe-se apenas que os policiais britânicos dispararam oito tiros contra ele, sete na cabeça e um no ombro. Mas as investigações sobre a morte de Jean, pela Comissão Independente de Reclamações sobre a Polícia, devem demorar meses para serem concluídas.

Evidências, como as fitas do circuito interno da estação de metrô de Stockwell, onde Jean foi morto, que podem revelar detalhes sobre a ação policial e a morte da vítima, somente deverão ser divulgadas após o fim das investigações. O inquérito, aberto na segunda-feira na Southwark Coroner Court, também só poderá ser concluído com o fim das investigações da Comissão. Os dois processos são independentes. O inquérito apura as circunstâncias do incidente. Já as investigações da Comissão apontarão os responsáveis e se cabe uma ação criminal contra eles na Procuradoria-Geral.

Um dos pontos mais polêmicos diz respeito à situação legal do brasileiro em Londres. Ontem, uma porta-voz do ministério do Interior britânico disse ao Estado que ainda não há uma posição oficial sobre a situação do visto do brasileiro. Fontes diplomáticas brasileiras reafirmaram as declarações do chanceler Celso Amorim, segundo as quais as autoridades britânicas haviam informado que a situação de Jean era legal.

Apesar disso e do chanceler britânico, Jack Straw, ter afirmado que, no seu entender, o brasileiro estava legalmente no país, o tema continua criando polêmica. Straw tinha dito que o tema é da responsabilidade do Ministério do Interior.

Os pais de Jean serão indenizados pelo governo britânico, já que a polícia de Londres assumiu o erro, o que implicaria automaticamente em uma compensação financeira aos familiares da vítima.