Título: SMPB sempre lidou com verbas eleitorais
Autor: João Domingos e Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Nacional, p. A8

A afirmação feita pela SMPB de que fez doações "por fora" para políticos nas eleições de 1998 é a confissão oficial de uma conhecida prática da agência em Minas. A empresa de Marcos Valério de Souza se notabilizou no mercado mineiro por atuar não apenas na criação publicitária, mas também no financiamento de campanhas eleitorais. Três publicitários e dois deputados federais ouvidos pelo Estado afirmam que a agência atuou na captação de recursos - oficiais ou não - nas campanhas dos tucanos Aécio Neves para o governo estadual, em 2002, Eduardo Azeredo, também para o governo, em 1998, e João Leite para a prefeitura de Belo Horizonte, em 2002. A assessoria do governador Aécio Neves informou ontem que nenhuma empresa de Valério participou, direta ou indiretamente, da campanha de 2002, que foi produzida por um comitê próprio, integrado por profissionais contratados no mercado. Segundo a assessoria, nem Valério nem suas empresas participaram da parte de comunicação, da coordenação financeira ou política.

A SMPB montou uma equipe de criação respeitada no mercado mineiro. Mas, desde sua origem, manteve ligações estreitas com verbas eleitorais e contas públicas. Durante as eleições, arrecadava dinheiro com alguns de seus clientes e outras empresas.

Depois, repassava para políticos ou coordenadores de campanhas - e alguns deles declaravam apenas parte do valor total recebido. A agência, em contrapartida, recebia uma comissão. Os valores que cada parte envolvida recebia eram acertados antes da liberação do dinheiro. No mercado mineiro, a estratégia foi apelidada de BV, numa alusão à tabela de remuneração do mercado publicitário "bonificação de valores".

A atuação da SMPB nessa área era tão conhecida que a agência chegou a ser colocada de escanteio no início da campanha de Aécio. Valério, no entanto, reverteu a situação ao conseguir doação da mineradora Usiminas, um de seus clientes. Com esse dote financeiro, a agência voltou a atuar nos bastidores da campanha, mas o publicitário causou constrangimentos no meio político mineiro ao comentar sem reservas - até mesmo em restaurantes - que conseguira essa doação.

Um dos coordenadores da campanha de Aécio, Herculano Anguinetti - atual secretário estadual de Turismo e citado por Valério em seu depoimento à Polícia Federal como um dos políticos com quem tinha contato freqüente -, era visto sempre na SMPB e chegou a fazer viagens com Cristiano Paz, um dos sócios da empresa, para levantar recursos à campanha. Segundo a assessoria do governador Aécio, Anguinetti não coordenou nenhuma área da campanha de 2002.

Na campanha de João Leite, disseram as fontes, Cristiano também teve participação ativa na captação de recursos. Participou de reuniões com alguns de seus clientes para levantar dinheiro. Um político presente em um desses encontros conta que Cristiano levantou R$ 1 milhão em doações da Usiminas para a campanha de Leite .

O coordenador do PSDB na campanha de João Leite, Paulo Menicucci, admitiu - depois de jurar em entrevistas que a acusação era mentirosa - que sacou das contas da SMPB R$ 205 mil vindos da Usiminas. Por sua assessoria, Cristiano Paz afirmou que não participou de reuniões, nem levantou verbas de campanha .