Título: Dirceu: 'Ninguém vai se salvar sozinho'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Nacional, p. A10

O deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro-chefe da Casa Civil, acredita que o governo quer rifá-lo para se salvar da crise política. Nas poucas conversas que tem mantido com petistas, no entanto, ele avalia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está adotando estratégia errada. No seu diagnóstico, Lula deveria partir para o confronto explícito com a oposição, principalmente com o PSDB. "Ninguém vai se salvar sozinho", afirmou Dirceu, há cinco dias, na reunião do Campo Majoritário do PT, grupo que abriga os moderados do partido. "Engana-se quem pensa o contrário." O deputado aplaudiu, por exemplo, o tom agressivo do discurso de Lula, na sexta-feira, quando ele disse que a elite não lhe faria baixar a cabeça.

"Mas isso foi casual ou é uma tática de governo?", perguntou Dirceu à platéia de petistas. Seus companheiros não souberam responder. O homem que sempre deu as diretrizes políticas do governo não tem nem mesmo conversado com Lula. "Eu espero que aquele discurso tenha sido uma tática", disse.

Dirceu define a CPI dos Correios como um "tribunal de exceção". Tem feito de tudo para não depor na comissão, mas acha que não lhe restará alternativa. Aos deputados petistas Paulo Rocha (PA), Professor Luizinho (SP) e José Mentor (SP) - que o visitaram ontem em seu apartamento -, Dirceu procurou não demonstrar abatimento. "Ele está se preparando para o depoimento ao Conselho de Ética, na terça-feira", contou Professor Luizinho.

Na terça-feira, ele convocou antigos assessores da Casa Civil para checar dados de tudo o que fez e com quais empresários e banqueiros esteve quando ocupava o 4.º andar do Palácio do Planalto. Anota hora, data e local, para não ser pego de surpresa pelos adversários.

Alguns quilos mais magro - não revela quantos -, Dirceu continua dizendo que nunca tratou de empréstimos para o PT, ao contrário do que disse Renilda Santiago, mulher de Marcos Valério, à CPI. Aos amigos fala que ninguém conseguirá provar nada contra ele. Admite até a possibilidade de ter mandato cassado, mas insiste que não renunciará. "Não sou réu. Se houver cassação, será política", diz.

O comportamento ciclotímico de Dirceu preocupa o Planalto. Embora Lula esteja contrariado com ele - por achar que foi traído -, a ordem é para que a nova direção do PT não pressione o ex-ministro.