Título: Dirceu recebeu presidente do Banco Rural
Autor: Patrícia Campos Mello e Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Nacional, p. A11

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu manteve pelo menos mais um encontro com a presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo, além do já conhecido jantar no Hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte. Em 7 de agosto de 2003, Dirceu recebeu Kátia em audiência em Brasília, às 15 horas, conforme consta em sua agenda, disponível no endereço da Casa Civil na internet. Em seu depoimento na CPI dos Correios, Renilda Santiago Fernandes de Souza disse ter ouvido de seu marido, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que Dirceu mantivera encontros com os presidentes dos Bancos Rural e BMG para supostamente dar garantia de pagamento dos empréstimos tomados pelas empresas de Valério em nome do PT.

Por meio de sua assessoria, o ex-ministro negou mais uma vez que tenha tratado dos empréstimos para as empresas de Valério na audiência que manteve com Kátia Rabelo em agosto de 2003. "Nunca tratei de nada disso", disse Dirceu, segundo sua assessoria. "Em minhas audiências, só tratei de coisas de interesse público."

Um levantamento feito pelo Estado na agenda do ex-ministro, desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até a sua saída do governo, mostrou que Dirceu recebeu representantes de apenas quatro bancos, sendo um deles estrangeiro.

Entre os brasileiros, figuram o Rural e o BMG. Os dois concederam os empréstimos às empresas DNA e SMPB que, segundo o próprio Valério e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, foram repassados ao PT.

CITIGROUP

O presidente do BMG, Flávio Guimarães, foi recebido por Dirceu em 20 de fevereiro de 2003 para almoço nas dependências da Casa Civil, segundo a agenda do ex-ministro. Renilda disse à CPI que não sabia a data do encontro do ex-ministro com o presidente do BMG para supostamente tratar dos empréstimos.

Além do BMG e do Rural, outro banco brasileiro que teve um dirigente recebido por Dirceu foi o Bradesco, cujo presidente, Lázaro Brandão, esteve na Casa Civil em 20 de fevereiro de 2004.

A instituição estrangeira que consta da agenda é o Citibank: seu presidente no Brasil, Gustavo Marin, esteve com Dirceu em 18 de setembro de 2003. Em 31 de março de 2004, Dirceu voltou a receber Marin, dessa vez acompanhado do vice-presidente do Citigroup, William Rhodes.

Alguns integrantes da CPI dos Correios acusam o governo de ter beneficiado o BMG com a medida provisória que criou a figura do crédito consignado. A agenda de Dirceu mostra que não era um hábito receber banqueiros em seu gabinete na Casa Civil. E abriu poucas exceções durante os dois anos e meio que passou no cargo.