Título: PT só fez um empréstimo, diz BMG
Autor: Patrícia Campos Mello e Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Nacional, p. A11

O advogado do banco BMG, Sérgio Bermudes, afirma que a instituição concedeu um único empréstimo ao PT - de R$ 2,4 milhões, em fevereiro de 2003. O banco deu outros quatro empréstimos para empresas de Marcos Valério e seus sócios. "Esses empréstimos não foram concedidos ao PT. Se o dinheiro foi para o PT, o banco não sabe", disse Bermudes, que representa Flávio Guimarães, o controlador do BMG. Marcos Valério afirma que repassou os recursos para o PT. Segundo Bermudes, o banco simplesmente empresta dinheiro para quem apresenta garantias e não é função da instituição investigar o destino do dinheiro. "Se o Marcos Valério investiu numa igreja ou comprou uma casa de prostituição, isso foge à alçada do banco."

Os cinco empréstimos foram concedidos entre fevereiro de 2003 e julho de 2004 e somam R$ 43,6 milhões. Somente um deles, de R$ 12 milhões, contraído pela SMPB, foi quitado. O do PT vence em 22 de agosto e os três restantes, à SMPB, Graffiti Participações e ao escritório de advocacia Rogério Tolentino, vencem em 1.º de setembro. O banco já prepara a execução extrajudicial de todos, caso não sejam honrados. Somente o principal da dívida chega a R$ 31,6 milhões, sem contar juros e mora.

O empréstimo ao PT, de R$ 2,4 milhões, é o de valor mais baixo e já foi amortizado seis vezes, com pagamentos de juros no montante aproximado de R$ 1 milhão. Cinco amortizações foram feitas pelo próprio PT e a última, em 14 de julho de 2004, por Valério, que avalizou a operação ao lado do ex-presidente do partido José Genoino e do ex-tesoureiro Delúbio Soares. O publicitário pagou a parcela de R$ 350 mil, 10% do valor do novo empréstimo obtido por ele, no mesmo dia, para a SMPB, de R$ 3,5 milhões.

POSSE

O primeiro dos empréstimos feitos por Valério ocorreu em fevereiro de 2003, um mês depois da posse do presidente Lula. O BMG cedeu a Valério a quantia de R$ 12 milhões, tendo como garantia um contrato da SMPB, agência do publicitário, com a Eletronorte.

Esse empréstimo foi quitado, ou rolado, com a concessão de crédito de R$ 15 milhões, em janeiro de 2004, para a Grafitti, que tinha como garantia um contrato de publicidade com os Correios - hoje suspenso.

Em abril de 2004, a SMPB obteve empréstimo, de R$ 4,3 milhões, e Rogério Tolentino conseguiu crédito de R$ 10 milhões, com aval dele e de Valério e com R$ 10 milhões de CDB do BMG como garantia.

Segundo o advogado, não é nada "atípico", como afirmou o Banco Central, usar contratos de prestação de serviços para estatais como garantias para os empréstimos. Ele diz que, segundo o acordo firmado pelo banco, todos os pagamentos dos Correios para Valério teriam de ser feitos através do BMG - o que garantiria o pagamento da dívida. "E, de mais a mais, esses contratos de publicidade eram apenas garantias adicionais - o aval pessoal de Marcos Valério e seus sócios eram suficientes", disse Bermudes. "Eles têm patrimônio para pagar essas dívidas, Valério tem mais de US$ 10 milhões."

Valério aparece como avalista em três empréstimos; sua mulher Renilda, nos outros dois; Cristiano Paz e Ramon Cardoso, sócios da SMPB, acompanham Renilda em dois avais e Valério em outro, e Tolentino, sócio do publicitário no escritório de advocacia, subscreveu outra operação.