Título: 'Todos que erraram, sejam do meu partido ou de outro, têm de pagar'
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Nacional, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na tarde de ontem que está "indignado" com a crise política e as denúncias de corrupção. Em discurso para cerca de 10 mil pessoas, em Bagé (RS), ele assegurou que os culpados terão de pagar. "O único legado que tenho na minha vida é vergonha na cara. Isso eu passei para os meus filhos", ressaltou. "Todos aqueles que cometeram erros, sejam do meu partido ou de outro, católico ou evangélico, homem ou mulher, têm de pagar." Ao participar do ato de criação da Universidade Federal do Pampa, Lula criticou a imprensa, por só noticiar as "desgraças", e os adversários, que torcem pelo fracasso do governo. Disse que é contra julgamentos precipitados e que "alguém" terá de pedir desculpas aos inocentes "manchados" pela imprensa. "Muitas vezes as pessoas preferem vender as desgraças em vez das coisas boas. Mas também acontecem coisas extraordinárias e nem sempre somos informados."

"Estou pedindo a Deus para chegar a dezembro de 2006 e comparar (as minhas ações) com o que foi feito nos últimos 20 anos, para saber se alguém investiu mais do que nós em políticas públicas", disse. "O saldo é muito positivo, mas ao mesmo tempo estamos vivendo uma crise política, é um tal de diz que diz, que eu não sei como vocês estão se sentindo. Eu me sinto indignado."

MENSALÃO

Lula foi ovacionado diversas vezes pela multidão, que levantava bandeiras do Brasil, distribuídas pela prefeitura de Bagé, e algumas do PT. Um grupo de estudantes universitários estendeu uma faixa contra o governo: "Tem R$ para o mensalão, mas não tem para a educação." A Universidade Federal do Pampa, que agrupará entidades de ensino da região, terá 2 mil estudantes e 400 professores.

Em vários momentos do discurso, Lula enfatizou a questão do combate à corrupção. "Não tenho mais a minha mãe, mas tenho minha consciência e milhões de brasileiros que confiam em mim", afirmou. "Se depender de mim, não terá neste país corrupção - quem sabe num curto espaço de tempo."

Ele disse que nenhum governo foi tão "forte" no combate à corrupção quanto o dele. Defendeu o trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e até da CPI dos Correios, mas observou que não se pode condenar pessoas antes de julgá-las: "Sou contra a pena de morte, as pessoas têm direito de se defender."

Lula reconheceu que a corrupção é uma das causas da miséria no País. "Estou convencido de que a corrupção no Brasil e em outros países é a razão de uma parte da pobreza do nosso povo", disse. "Se o dinheiro público chegasse ao lugar que deveria já teríamos dado um salto de qualidade."

O prefeito de Bagé, Luiz Fernando Mainardi (PT), evitou um constrangimento. Ele conseguiu uma audiência de Lula com produtores de arroz que reivindicam o adiamento do pagamento de financiamento da safra deste ano. Em troca, eles cancelaram um protesto.

RECORDAÇÕES

Lula desfiou recordações em conversa com os petistas gaúchos que integravam a comitiva. Falou do PT que ajudou a criar, contou histórias da época em que a legenda nasceu e ressaltou o clima de camaradagem que existia então. A bordo do Airbus presidencial estavam o ministro da Educação, Tarso Genro, presidente interino do partido, e vários deputados.

Em Porto Alegre, Lula teve um encontro num hotel com o prefeito José Fogaça (PPS). "Ele estava tranqüilo, bem-humorado, satisfeito com a economia e cheio de expectativa de que as coisas vão acontecer", relatou o prefeito.

Do lado de fora do hotel, previdenciários em greve faziam um protesto agitado pela filha de Tarso, a deputada Luciana Genro (PSOL-RS). Em cima de um caminhão com cartazes contra o governo Lula, ela estocou: "O problema do PT não é só ético e moral. O mar de lama é resultado das alianças."