Título: Preso suspeito dos atentados de 21/7
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/07/2005, Internacional, p. A14

O somali Yasin Hassan Omar, um dos quatro suspeitos dos atentados do dia 21 contra três trens do metrô e um ônibus de Londres, foi preso ontem. A ação foi muito comemorada pelas autoridades britânicas por causa das previsões feitas pela polícia. "Eles (os que ainda estão soltos) são capazes de tentar matar novamente", advertiu Ian Blair, o chefe da Scotland Yard. "Precisamos encontrá-los logo". A esperança agora é que Omar coopere com as investigações e os demais suspeitos sejam presos antes do próximo ataque. Para capturar Omar na cidade de Birmingham, os agentes usaram uma "taser gun" de fabricação americana, arma de alta voltagem que libera até 50 mil volts. O choque permite imobilizar temporariamente a vítima. Na hora da prisão, o somali carregava um pacote suspeito. Técnicos em explosivos foram acionados para examiná-lo, enquanto os agentes retiravam pelo menos cem pessoas de casas da vizinhança.

Segundo testemunhas e outras evidências colhidas pelos investigadores, Omar tentou cometer o atentado num trem do metrô que se aproximava na manhã do dia 21 da estação Warren Street. Como nos demais três ataques ocorridos naquela manhã, só o detonador explodiu, provocando pânico e danos irrelevantes.

Quando foi preso, Omar, de 24 anos, não teve tempo de reagir. Ficou paralisado. Agarrado pelos policiais, foi levado imediatamente à sede da Scotland Yard em Londres. Ele está agora sendo submetido a intensos interrogatórios por detetives especializados nessa tarefa, adiantou um porta-voz policial.

Investigadores revistaram o apartamento de Omar em New Southgate, zona norte de Londres, onde ele morava havia 2 anos. Nos últimos meses, vinha dando abrigo ao eritreu Muktar Saed Ibrahim, outro suspeito. A Scotland Yard teria encontrado evidências de que eles usaram a casa para fabricar explosivos. Ambos freqüentavam a mesquita de Finsbury Park, que a Scotland Yard vincula ao terrorismo.

Vizinhos destacaram que Omar e Ibrahim recebiam um grande número de visitas de gente estranha a qualquer hora do dia ou da noite. Disseram que Omar tinha papel de destaque na associação de inquilinos do edifício. "Ele vivia se queixando das goteiras", lembrou um deles, que acrescentou: "Omar e Ibrahim iam com muita freqüência a um bosque das imediações para jogar futebol com a garotada." Um dos meninos, Vance Noor, confirmou ter jogado com eles. Ele definiu Omar como um "sujeito muito mal-humorado, que não gosta de ocidentais e vive falando coisas extremadas".

Um comerciante da região contou que o somali ia com freqüência a sua loja. "Falava mal dos turcos e em 11 de setembro de 2001 (dia dos ataques terroristas nos EUA) fez rasgados elogios a Osama bin Laden", lembrou.

Omar é um dos 45 mil refugiados procedentes da Somália que pediram asilo na Grã-Bretanha. Estima-se que 100 mil somalis vivam hoje no país, a maior parte na capital.

Quando ele chegou com a família em 1994, tinha 13 anos. Ainda recentemente, recebeu ajuda do governo para levar uma "vida decente".

Além da blitz em Birmingham, agentes vistoriaram várias moradias em Enfield e Finchley, zona norte de Londres. Duas pessoas foram detidas num trem do metrô perto da estação King's Cross, mas foram libertadas poucas horas depois por "não ter nenhum vínculo com o terrorismo".

O primeiro-ministro Tony Blair elogiou a atuação da Scotland Yard que vem recebendo duras críticas em razão da execução do brasileiro Jean Charles de Menezes na sexta-feira por policiais que o confundiram com um terrorista.

A morte do brasileiro e as continuadas detenções estão provocando pavor entre os habitantes de origem asiática da cidade. "Sou de Bangladesh, uso barba e mochila nas costas e estou pensando que posso ser o próximo alvo", disse preocupado Ajmal Masroor, de 33 anos, um líder comunitário. O que mais preocupa essas comunidades de imigrantes é o fato de que Menezes foi executado sumariamente com oito tiros por uma simples suspeita.

Os agentes responsáveis são membros da chamada Operação Kratos, criada logo depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington. Segundo a mídia londrina, os integrantes desse grupo têm autorização para matar supostos homens-bomba sem dirigir a eles nenhuma advertência ou aviso. Não ficou claro ainda se Menezes teria recebido qualquer tipo de advertência. "Se uma unidade policial tem uma razoável suspeita não precisa dar nenhum aviso antes de abrir fogo", disse uma fonte policial ouvida pelo jornal The Guardian.

Segundo The Washington Post, um grande número de policiais londrinos, famosos no passado por andarem desarmados, agora portam armas de fogo. Um estudo recente, citado pelo jornal, revela que mais de 2 mil policiais da capital britânica têm licença para portar e treinar o manejo de submetralhadoras e pistolas. Londres experimentou o terrorismo antes, notadamente durante a onda de atentados desencadeada pelo Exército Republicano Irlandês (1970-1990).

O deputado Chris Mullen ajudou a libertar nos anos 80 um grande número de irlandeses presos e condenados erroneamente por suposto envolvimento em atentados do IRA.

"Mas hoje, a ameaça é diferente", afirma ele. "Os terroristas norte-irlandeses costumavam dar avisos antes de seus ataques e jamais realizaram missões suicidas", ressaltou.