Título: PCC cobra pedágio de perueiros
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Metrópole, p. C1

O Primeiro Comando da Capital (PCC) entrou no lucrativo mercado dos perueiros em São Paulo. Seus homens estão cobrando pedágio e vendendo proteção para motoristas de linhas de todas as regiões da cidade. Quem não paga é morto ou expulso da linha. Em seu lugar, um homem do PCC é colocado e assim a facção passa a controlar peruas e linhas. A prática, que era esporádica no passado, tem se tornado importante fonte de renda da organização. Ao todo, 26 motoristas denunciaram o esquema em depoimentos ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Um deles, o perueiro V., de 60 anos, tem até hoje uma bala na cabeça que recebeu no ano passado porque não quis pagar o pedágio aos bandidos. Quem depôs é ameaçado para que não confirme na Justiça o que disse à polícia.

"Nós apuramos a possibilidade de gente ligada às cooperativas estar envolvida na cobrança da propina, recolhendo o dinheiro que é entregue ao PCC", disse o delegado Armando de Oliveira Costa Filho, diretor da Divisão de Homicídios. As provas das extorsões surgiram durante a investigação do assassinato de dois perueiros. Além de depoimentos, os policiais conseguiram escutas telefônicas.

Foram abertos dois inquéritos, que apuram os achaques em linhas mantidas pelas cooperativas Cooperalfa, na zona leste, e Transcooper, na zona sul. O Estado procurou os representantes das cooperativas e foi informado de que eles não estavam na sede das empresas.

Um homem e uma mulher acusados das extorsões e da morte dos perueiros foram presos pelo DHPP. O primeiro homicídio ocorreu em 21 de agosto de 2004. Avelardo Willian Galindo, de 21 anos, foi morto no Itaim Paulista, na zona leste.

Galindo se insurgiu contra a decisão dos bandidos de dobrar o valor do pedágio. A propina paga pelos 22 perueiros de sua linha permitia aos bandidos arrecadar R$ 25 mil por mês - existem 6.500 peruas e microônibus circulando em São Paulo.

O dinheiro era dividido entre dois grupos: um ligado ao PCC e chefiado pelo criminoso conhecido como JR e o outro formado por ladrões da região, comandado por Luciano Mendes da Silva, que está foragido. Acusado de ser o pistoleiro do grupo, o irmão de Luciano, Jonas Mendes da Silva, foi preso.

Silva e JR são suspeitos de outro homicídio: o de perueiro Leandro Moreira da Silva, também no Itaim Paulista. "Há mais dois casos que podem estar ligados aos dois", disse o delegado Julio Cesar dos Santos Geraldo.

Os policiais descobririam ainda que os bandidos usavam mulheres para recolher o dinheiro com os perueiros. Uma delas era Izabel Tereza Gomes da Fonseca, de 35 anos, que foi presa. Ela subia no ponto final e pedia, todas as sextas-feiras, o dinheiro. "Se a pessoa não paga até as 18 horas de sexta-feira, no sábado está morta", disse V.V.

Há 15 dias ele está sem trabalhar, porque se recusa a pagar o pedágio para o PCC na linha Cidade Kemel-Itaim Paulista. Os bandidos queriam que ele pagasse R$ 250 por semana, valor cobrado de todos os motoristas da linha. Quando começou a trabalhar com perua, há 16 anos, não havia cobrança.

"Reuni todo mundo para que a gente não pagasse mais." No dia seguinte, um sábado, cinco homens armados cercaram a perua de V.V. no Itaim Paulista. Ele escapou. "Agora, eles abaixaram para R$ 200, mas eu continuo sem pagar." F.S., outro perueiro da mesma área, foi expulso da linha porque também se manteve irredutível. "Quem manda são eles. Toda a linha da região paga."