Título: Anúncio afeta destino da Irlanda do Norte
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Internacional, p. A14

BELFAST - O Exército Republicano Irlandês (IRA) anunciou o fim de sua campanha de violência contra a Grã-Bretanha, afirmando que há "um caminho alternativo para alcançar" seu objetivo de uma Irlanda unida. O anúncio, por meio de um DVD, foi recebido em Londres como uma mudança potencialmente profunda no destino da Irlanda do Norte, revertendo décadas de compromisso republicano com a violência no esforço para pôr fim ao domínio britânico. "Este pode ser o dia em que, finalmente, depois de todos esses falsos começos e esperanças destruídas, a paz substituiu a guerra, a política substituiu o terror na ilha da Irlanda", disse o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, num pronunciamento transmitido pela TV. Ele afirmou ainda que o anúncio "cria as circunstâncias" nas quais o governo da Irlanda do Norte, baseado na partilha do poder, poderá ser ressuscitado. O primeiro-ministro irlandês, Bertie Ahern, afirmou que o anúncio do IRA será significativo se a organização traduzir as palavras em ações.

Uma das questões preocupantes é se o IRA vai suspender as operações criminosas - como o roubo e lavagem de dinheiro - que financiam a organização. Os céticos temem que o grupo se divida em gangues pequenas e independentes.

O IRA afirmou na declaração: "Nossas decisões foram tomadas para promover nossos objetivos republicanos e democráticos, incluindo o objetivo de uma Irlanda unida. Acreditamos que existe agora um caminho alternativo para se alcançar isso e para pôr fim ao domínio britânico de nosso país." "Todas as unidades do IRA receberam a ordem de depor as armas", disse o anúncio, lido por um ex-prisioneiro, Seana Walsh. Blair afirmou que os unionistas - os inimigos do IRA - gostariam de garantir que "a clara declaração de princípios seja respeitada na prática".

A iniciativa representa um passo rumo à restauração do governo local da Irlanda do Norte, criado sob um acordo de paz em 1998 mas suspenso em 2002, por causa de alegações de atividade do IRA. Os unionistas, que formam o maior grupo político da província e são na maioria protestantes, devem insistir num adiamento de pelo menos um ano antes de voltar a dividir o Parlamento local com o Sinn Fein.