Título: IRA abandona a luta armada
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Internacional, p. A14

LONDRES - O Exército Republicano Irlandês (IRA) anunciou ontem o abandono da luta armada levada a cabo há mais de 30 anos para anexar a Irlanda do Norte (Ulster), província britânica de maioria protestante, à católica República da Irlanda. O IRA informou a seus membros e simpatizantes que vai defender a causa republicana por meios pacíficos, políticos e democráticos. Essa tarefa estará a cargo do Sinn Fein, braço político do grupo paramilitar católico, cujo líder, Gerry Adams, classificou a decisão da ala militar de "iniciativa corajosa e confiável".

A luta do IRA aterrorizou a Grã-Bretanha com seus atentados durante décadas, que segundo estimativas otimistas, provocaram a morte de 3 mil pessoas e deixaram outras 33 mil feridas.

Até os ataques de militantes islâmicos no metrô e no ônibus de Londres no começo deste mês, os atentados do IRA eram a principal ameaça à segurança na Grã-Bretanha. É por causa desse histórico que a reação à decisão do IRA foi recebida como um alívio ontem. Os primeiros-ministros, Tony Blair (Grã-Bretanha) e Peter Ahern (Republica da Irlanda), que apóiam o processo de paz na região, não economizaram nos adjetivos. Ambos descreveram a notícia como um passo de incomparável magnitude.

Na declaração, o comando do IRA diz ter ordenado a todas as unidades que deponham as armas.

"Pedimos também aos voluntários que não se envolvam em outros tipos de atividades", destaca o documento numa clara referência a atos criminosos do grupo no passado. A lista de delitos inclui contrabando de armas, roubos e castigos corporais aplicados a membros da própria comunidade católica, a mesma que o IRA pretende representar. O IRA deixou claro que repudia a campanha de violência, mas não se autodissolve, assumindo a forma de uma associação de veteranos.

O desarmamento e a dissolução eram duas exigências feitas pelo reverendo Ian Paisley, líder do protestante Partido Democrático do Ulster (DUP) para reabrir a Assembléia Legislativa, que católicos e protestantes compartilham em igualdade de condições.

Receoso, o reverendo reagiu com ceticismo: "Vamos conhecer as verdadeiras intenções do IRA nos próximos meses ou anos baseados em seu comportamento e atividades." Adams, o líder do braço político do IRA, respondeu no mesmo tom: "Cabe agora ao reverendo Paisley dizer se ele está disposto a esquecer o passado e promover a paz."

A decisão do IRA é resultado de um apelo feito em abril por Adams, interessado em retomar os trabalhos legislativos na província. Eles estão suspensos desde 2002, em conseqüência de suposta espionagem de líderes protestantes pelo IRA.

O governo encarregou um grupo especial para verificar se o IRA realmente cumprirá a promessa.